Dedico essa postagem ao meu grande amigo Ravick Bitencourt, agnóstico, engenheiro botânico, cartunista e filósofo nas horas vagas, um homem equilibrado.
Criacionistas e ateus evolucionistas estão de acordo num ponto: A religião é incompatível com a Teoria da Evolução. Sobre isso não há o que discutir, é ponto pacífico entre ambos os grupos.
Os criacionistas dizem que a religião é incompatível com o evolucionismo porque este desmente a Bíblia, a Criação de Deus feita em 6 dias de 24 horas; Os evolucionistas ateus por seu turno dizem que Darwin destruiu a fé, e que ninguém pode ser simultaneamente religioso e evolucionista. Tanto um lado como outro estão redondamente enganados.
Por mais que eu preze Darwin e sua obra, bem sei que ele não foi o primeiro evolucionista, apenas sistematizou e divulgou, antes dele tivemos Lamarck, o verdadeiro "pai do evolucionismo" (que aliás era cristão devoto) e Darwin se referiu diversas vezes a ele em sua obra. Já o avô de Darwin também era evolucionista e podemos regredir mais tempo ainda, e encontraremos o evolucionismo em Buffon. Então, o evolucionismo não é uma coisa nova, mas muito antiga, antiquíssima para ser mais exato. A primeira notícia que se tem do evolucionismo data de mais de 2.500 anos. Foi o filósofo pré-socrático Anaximandro quem postulou a primeira vez a evolução como hipótese científica, hipótese, hipótese sim, porque ele não dispunha dos meios para testar sua hipótese. A hipótese só deixa de ser hipótese e passa a ser teoria quando ela é testada e verificada. Por aí se vê que a ideia de evolução é muito antiga, e que o evolucionismo não nasceu do ateísmo e nem evolucionismo é sinônimo de ateísmo como querem alguns desinformados.
O cristianismo não é avesso ao evolucionismo, posto que antes de Darwin muitos cristãos tinham concepções avançadas acerca da criação, dentre eles cito: Orígenes de Alexandria, Gregório de Nissa e Agostinho de Hipona.
Falemos agora de Richard Dawkins que é um cientista brilhante, mas faz da ciência a sua religião e sua metafísica, coisa aliás criticada por Nietzsche com maestria em Gaia Ciência.
"Quando João Paulo escreveu uma carta endossando o darwinismo, a resposta de Richard Dawkins foi simplesmente dizer que o papa era hipócrita, que ele não podia falar genuinamente sobre a ciência e que o próprio Dawkins preferiria um fundamentalista honesto".¹
Então segundo Dawkins para ser evolucionista é preciso ser ateu, mas isso não é uma forma de dogmatismo? Um dogmatismo às avessas?
Mas Stephen Jay Gould que era agnóstico afirmou: "Ou metade de meus colegas é absurdamente estúpida, ou então a ciência darwinista é totalmente compatível com as crenças religiosas convencionais, e assim, compatíveis com o ateísmo".²
Vejamos como o cristianismo encarou a evolução antes de Darwin: "Já no século IX, um cristão devoto chamado de Job de Edessa afirmava que a verdadeira criação deve ser entendida dentro da ideia de que Deus criou os elementos básicos para que fosse levada adiante a criação e seus inumeráveis gêneros e espécies".³
"No fim da Idade Média era comum ouvir notícias sobre a captura de seres intermediários entre homens e macacos, chamados de elo perdido. durante a Idade Média e na Antiguidade o homem era concebido como um animal. O que o distinguia de outros animais era o fato de poder manter contato com Deus, mas para isso deveria purificar-se, isto é, deixar para trás um pouco de sua condição animalesca.
A imutabilidade das espécies não era, igualmente um preceito da sociedade antiga ou medieval e não fazia parte, de forma alguma do clima intelectual da época e nem mesmo da Igreja".¹*
Segundo Bizzo (1989) "Apenas mais tarde, quando começaram a aparecer dissidências no seio da Igreja, e com o advento da Reforma, começa-se a observar uma postura mais inflexível, sendo exigido o retorno à estrita leitura das escrituras".²*
Somente os extremistas ateus e criacionistas podem afirmar que religião e evolucionismo são incompatíveis, ambos os grupos ignoram a história, não se deram ao trabalho de pesquisar ou agem de má fé, o que é pior. Os sábios já diziam que: Extrema si tagunt, isto é, os extremos se tocam. Esses extremos são o ateísmo militante e o fundamentalismo cristão, que de cristão só tem mesmo o nome. Concluindo, religião e evolucionismo são compatíveis e podem andar de mãos dadas, basta ter equilíbrio, ou melhor, é uma questão a ser resolvida pela dialética.
Notas:
¹ McGRATH Alister & McGRATH Joanna. O Delírio de Dawkins. Editora Mundo Cristão, São Paulo, 2007.
² Idem
³ BIZZO, Nelio Marco Vicenzo. O Que é Darwinismo. Coleção Primeiros Passos nº 192. Editora Brasiliense, São Paulo, 2ª ed.1989.
¹* Idem
²* Idem
8 comentários:
Salve, Grande Félix!
Mas ah! Fiquei sorrindo de orelha a orelha aqui! ^^
Pois, concordo: acho que a coisa toda acaba virando uma torcida entre times: O time dos crentes contra o dos ateus; e isso 'deforma' evolucionismo para os moldes de cada lado.
Não conhecia muitas das referências, adorei a pesquisa que você fez!
Só uma coisa: Agnóstico sim; engenheiro, ainda; botânico, não é pra tanto, só um hobbie; e filósofo, haha, sei lá!
Um Grande Abraço! :D
Ah, e claro, é preciso mais evos teístas nessas discussões! ;)
Salve grande Ravick!
Fico feliz que tenha gostado da homenagem.
Certos cientistas fazem da ciência uma ideologia para sustentar oateísmo como uma posição científica, o que não é. O ateísmo é apenas uma posição filosófica e não é das melhores.
O mais acertado é ser agnóstico, quem nem afirma nem nega. Pois não tem como saber o que há além da natureza se é que há algo.
Obrigado Ravick.
Ceticismo é o melhor ingrediente para o progresso da ciência. Quando digo cético, não é desacreditar em tudo, mas considerar que tudo pode ser questionado e reavaliado. Inclusive as teorias mais caras aos cientistas.
Portanto considerar que deus não existe e fechar a questão, isto é totalmente contraditório ao ceticismo.
Não tenho religião, mas não sou contra quem crê. Apenas para mim (estou dizendo só a meu respeito) a existência ou não de deus não é relevante.
Agora, usar uma teoria científica para provar ou desprovar a existência de deus não tem cabimento. De um lado o ataque dos criacionistas à teoria da evolução só revela ignorância. Por outro lado, atrelar o ateísmo à teoria só desvaloriza esta última. Afinal devemos ser humildes, o evolucionismo não é a explicação para tudo que existe no universo.
Por que Deus não seria compatível com o evolucionismo? Lá atrás, na primeira centelha de vida, não poderia estar o desígnio divino, o "fiat lux"?
Também sou agnóstico. Não acredito- o que não quer dizer que desacredite. Mas me parece que não há efeito sem causa.
Caro Nekomata Reikainosuke:
Obrigado por apreciar o meu blog com os seus comentários inteligentes!
Gostei particularmente disso: "Portanto considerar que deus não existe e fechar a questão, isto é totalmente contraditório ao ceticismo".
Caro J.L. Tejo eu como vc sabe sou cristão, mas admiro muito a posição filosófica dos agnósticos.
Se um dia eu deixar de ser cristão é provável que me torne agnóstico.
Obrigado por sua palavras, amigo.
Neste ponto ateus e fundamentalistas estão de mãos dadas, mas 'no meio a verdade'.
Agnosticismo não é ateismo.
O ateu, como o teista, pretende saber o que para o agnósta é incognoscivel por estar além da experiência sensoria.
Daí o agnósta nem negar (como o ateu) nem afirmar mas duvidar...
Talvez sim, talvez não... quem pode saber?
Ateismo = metafísica.
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