sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Professores e Educação

Quando eu era adolescente tive graves problemas com a aprendizagem de matemática, e cheguei a ser reprovado três vezes no Ensino Fundamental II. Meus colegas de então me chamavam de burro e eu mesmo cheguei à esta conclusão.
O mais irônico de tudo é que eu sempre quis aprender matemática e eu não era um aluno bagunceiro ou encrenqueiro pelo contrário, era tímido ao extremo.
No colegial (ensino médio) tive outros tantos problemas não só com a matemática, mas também com a física e a química, para piorar a questão, meu querido papai me chamava de burro, ou melhor fazia sutis insinuações de que eu era um fracasso e que nunca eu seria um alguém na vida. Bom, eu prestava atenção nas aulas, perguntava aos professores acerca das questões, um deles, professor de física disse-me: "Se não entendeu, foda-se!". Abandonei a escola com 18 anos e fiquei traumatizado e me tornei um pobre entregador de jornais por cerca de 14 anos.

Fiquei muitos anos sem estudar, mas um rapaz que eu achava ser meu amigo, me insistiu para que eu voltasse a estudar. Expliquei para ele que isso era pura perda de tempo, visto que eu tinha dificuldades enormes com a matemática e as disciplinas associadas. Ele me disse que a escola onde ele estava era muito boa, que os professores sabiam ensinar. Pois bem, o rapaz convenceu-me a voltar a estudar.

De fato, naquela escola tive ótimos professores, e um deles não vou me esquecer nunca, exceto em caso de doenças mentais degenerativas, é óbvio. Claudio, esse era o nome do professor de física. Um homenzarrão, mas o que tinha de alto tinha de bondade. Era todo coração.
Recordo-me como se fosse hoje do primeiro dia de aula que meus colegas e eu tivemos com ele. Disse-lhe que eu não aprenderia física, que eu era extremamente burro, e que ele conseguiria um milagre se fizesse que eu conseguisse entender física. Ele limitou-se a sorrir.

Jamais vi aulas como às dele. Didáticas, divertidas e claras. Os quarenta alunos que éramos, entedemos física. Estávamos felizes! Ele se preocupava com os alunos, tirava dúvidas, dava atenção à todos e se preciso fosse explicaria um milhão de vezes a mesma matéria.

Depois que me formei no colegial, vi que o problema não era comigo, mas com a professora que tive no ginásio (ensino fundamental II). Ela nunca me deu atenção, nunca se preocupou comigo, nunca criou estratégias para me ensinar. Não se importou se eu tinha ou não problemas com a aprendizagem. Essa professora se preocupava apenas com os que já sabiam, se devotava apenas àqueles que tinham facilidade. Ora, ora isso é que é ser uma grande professora, se dedicar aos que sabem! É como os médicos que abandonam os doentes para visitar os sãos. Cabe aqui as palavras de Jesus: "Os sãos não precisam de médicos, mas os doentes". E assim era aquela professora que na verdade nunca foi minha professora e que nunca me ensinou nada, aliás ensinou sim, ensinou-me a odiar a matemática. Coisa essa que tive que desaprender a odiar ao conhecer os bons professores.

Hoje eu vejo como essa professora era incompetente e o quanto me prejudicou por não saber lecionar, por não conseguir se nivelar ao aluno, por não ter empatia. É indigna do título de professora, é indigna de estar em sala de aula, não faz jus ao salário que recebe ou recebia da Prefeitura de São Vicente.

Tenho lido revistas de Educação, e tenho visto propostas interessantíssimas de professores de matemática, li numa dessas revistas que um professor tinha problemas com uns alunos que eram péssimos em matemática e ficavam desenhando em suas aulas. O que o professor fez? Censurou os alunos? Não. Aproveitou a oportunidade e conversou com eles sobre a possibilidade deles criarem um herói relacionado à matemática. Os alunos gostaram e se não me falha a memória fizeram 8 edições desse herói da matemática. O gibi girava em torno de problemas matemáticos e que ele tinha que resolver. Ora, como eram esses alunos que bolavam as estórias, ficaram estimulados a estudar a matemática e a gostar da mesma. O resultado foi que esses alunos avessos à matemática se tornaram os melhores da classe. Pois é, que diferença faz um professor de verdade!

2 comentários:

Ravick disse...

"Se não entendeu, foda-se!".

'Claro, com professores fodidos como o senhor...'

Argh! Que nojo desse cara que me deu! >:@

Bah, isso me lembra um colega meu da graduação, meu amigo Danilo. O cara é muito inteligente, mas era zoado por todo mundo por ter fama de "burro" e "viajão". Eu mesmo fazia brincadeiras com ele, mas sempre lhe contava quando fazia, e não me importava quando ele fazia cmg, eramos amigos (ainda somos, mas agora perdemos contato).

Ele tbm tinha certa dificuldade em questões envolvendo lógica mecânica, mas uma facilidade invejável em questões humanas, e determinadas 'áreas' da filosofia. É inteligente, como vc tbm o é.

Adorei a comparação a um médico que vai ver os sãos! É como se alunos fora do 'padrão' fossem refugos! Como leitoezinhos que nasceram abaixo do peso! Como peças com defeito! Fala-se tanto em "humanidade", "ser mais humano" e etc e tal nesses meios, mas ainda existem míriades de professores como esses que descrevrestes em cada país! Que criam um padrão, o empregado exigido pelos tempos de hoje.

Não te incomodes com isso jamais, meu caro. Não és um padrão, não nascestes para ser uma peça em uma empresa. Mas para a compreensão; Para a sensibilidade e o raciocínio. Se isso exige que não te encaixes no molde da peça demandada, q seja. Padrões sociais são viseiras de cavalo! =D

Um grande abraço! :D

Fernando Rodrigues Felix disse...

Hoje não mais me incomodo, burrice é ser igual a todo mundo.

Todo educador é professor, mas nem todo professor é educador.