quinta-feira, 29 de maio de 2014

Por que ler seis sinais de cientificismo?



Porque é um artigo que discorre sobre os perigos do cientificismo que é a deferência acrítica para com a ciência. O artigo é da filósofa Susan Haack e foi traduzido por um dos fundadores da Liga humanista secular, Eli Vieira Araújo Junior e o artigo está disponível no site que leva o mesmo nome da organização supracitada. Segue a resenha.

Susan Haack é muito didática em sua exposição, mostra o que é cientificismo e quais são os seis sinais.

1. A deferência às palavras ciência, científico e seus cognatos: Por exemplo publicitários adoram mostrar que seus produtos tem eficiência comprovada pela ciência ou que tal coisa é aprovada pelos cientistas. Aqui a palavra ciência confere autoridade de tal modo que surgem cursos de ciência bibliotecária, ciência mortuária e outras bizarrices.

2. O uso de adornos científicos: Geralmente pessoas ligas às ciências sociais ou à alguma arte gostam de usar termos da física em direito ou nas ciências humanas para assim dar "maior autoridade" ao trabalho do "pesquisador". Mas o fato de usar uma linguagem científica não torna o objeto ciência, isso é feito para disfarçar o pensamento raso do pesquisador.

3. O problema da demarcação: Os popperianos gostam de traçar uma linha entre a ciência e não ciência através do "método" do Popper que era muito obscuro e ninguém sabe o que é na verdade. Mas a autora mostrou que não há uma linha clara entre cosmologia e metafísica nem entre a psicologia e a filosofia da mente e nem mesmo entre as artes inventadas pelos seres humanos e a ciência ao longo da história.

4. O problema do método: Para o cientificista tudo aquilo que não tem uma metodologia científica é inválido. Mas a autora mostra que em ciências não existe "um método", não existe "o método" e quem muito fala em metodologia são aqueles que menos uso fazem de métodos.

5. Procurar nas ciências respostas que não são de seu escopo: O cientificista crê que a ciência pode e deve dar todas as respostas que vão além da ciência, vez por outra a ciência té pode dar essas respostas mas isso não é o seu objetivo. Algumas perguntas pertencem à metafísica e a filosofia em geral.

6. Denegrir o não-científico: Para o cientificista só a ciência traz progresso, e tudo aquilo que não é ciência tem menos valor ou não tem valor algum. Mas a autora mostra que culturas tradicionais tem sim o seu valor e mesmo quando a ciência avança ganhamos por um lado e perdemos de outro.

A finalidade deste artigo foi mostrar para o leitor comum (não especializado com a filosofia da ciência) os perigos do cientificismo, que é a superestima da ciência que pode nos trazer o bem mas pode nos trazer o mal também. E que a ciência não é a única forma legítima de investigação, as outras formas de investigação são igualmente válidas (música, dança, literatura, estética, etc...) e enriquecem o patrimônio da humanidade.

http://lihs.org.br/artigos/Haack_Seis_Sinais_de_Cientificismo_LiHS_2012.pdf

terça-feira, 20 de maio de 2014

Nem oito, nem oitenta juízes...




Sabido é de todos que este país é o paraíso do corporativismo.

O qual é posto em prática mecanicamente e muitas vezes negativamente; ou seja sem tecer quaisquer considerações em torno da consciência, do bem e da justiça.

Assim os médicos costumam a proteger uns aos outros com demasiada facilidade e encobrir os erros uns dos outros com laudos falaciosos.

Parece que os arquitetos, engenheiros e outros profissionais não procedem de modo diverso... justificando quase sempre os equívocos de seus pares.

Como educadores somos nós mesmos testemunhas a respeito desta prática viciosa, enfim desta solidariedade do mal e para o mal...

Quanto a nossos políticos então... com que leviandade não absolvem uns aos outros das maiores atrocidades!!!

Enfim é todo um mundo de cinismo e mal caratismo que se deslinda num país que não é nem sério, nem instruído e no qual a corrupção assoma de baixo para cima com todo um cortejo de vícios...

Um dos quais é essa soma de forças ou corporativismo, a qual no entanto é de todo inútil para produzir a justiça.

Tal o caso do juiz carioca que no exercício de prerrogativa que não lhe compete ou que extrapola suas atribuições propôs-se a definir que seja religião e que não seja religião sem fazer o mínimo caso da 'opiniãozinha' dos cientistas religiosos, como Mircea Eliade!!!

Imagina agora se a moda pega e nossos magistrados põe-se a tirar de suas cabecinhas definições meramente subjetivas e preconcebidas a respeito de todas as instâncias da vida e atuação humanas???

De fato imaginam alguns deles que são deuses postos acima do bem e do mal e constituídos para definir que seja doutrina econômica e que não seja, teoria social e que não seja, corrente filosófica e que não seja...

Acontece que não precisamos das definições exaradas pelos srs juízes uma vez que contamos com Golob, Abagnano, Bobbio, Lalande, Eliade, etc OS QUAIS APÓS LARGAS PESQUISAS E PROFUNDO CONHECIMENTO DE CAUSA PROPUSERAM A COMUNIDADE CIENTÍFICA AS DEFINIÇÕES QUE MELHOR CONVÉM A CADA FENÔMENO!!!

Aos srs juízes pertence com toda propriedade julgar atos e pessoas, mas de modo algum definir conceitos ou pontificar a respeito do significado deste ou daquele termo; prerrogativa esta que cabe exclusivamente aos acadêmicos, eruditos, pesquisadores e cientistas...

E nem todo poder coercitivo existente na face da terra bastará para alterar este estado de coisas! Justo é que aqueles que pesquisaram e analisaram exaustivamente uma questão ou assunto qualquer pronunciem-se a respeito dele...

Tampouco o que não é da competência de um poderá corresponder a competência de vários seres da mesma categoria; como certifica J J Russeau no 'Contrato social'.

De modo que nem uma, nem dez, nem cem ou mesmo mil sentenças do gênero produzem ato juridicamente válido; na medida em que a competência do autor ou no caso dos autores continua sendo extrapolada.

Resta-nos declara, numa perspectiva anti voluntarista e realista, que apesar das sentenças e decretos dos juízes permanecem os fenômenos sendo aquilo que de fato são. Assim continuam todos os cultos africanos pertencendo a esfera da religiosidade e constituido religião e não qualquer outra coisa...

Não tendo os magistrados - quais fossem feiticeiros ou pajés - o poder de alterar a natureza mesma das coisas por meio de suas palavras, devemos concluir que por mais que queiram são de todo impotentes para converter as religiões afro brasileiras em culinária, economia, corte e costura, matemática, etc

Buscando o invisível, o sagrado e o numinoso identificam-se elas com o éthos religioso.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Senhor juiz, pare agora! Uma defesa do caráter religioso das comunidades afro brasileiras







A concepção segundo a qual religiões devam ter escrituras ou livros sagrados peca por sua artificialidade e unilateralidade.

É o que amiúde se sucede quando as pessoas optam por pontificar a respeito do que supinamente ignoram.

Assim quando apresentadores de TV, jornalistas ou mesmo magistrados põe-se a definir sobre temas e assuntos que fogem a suas respectivas competências...

"Sapateiro não passe dos sapatos." já faziam dizer os antigo gregos a respeito de pessoas que assumem este tipo de posicionamento, julgando quase sempre pelas aparências e reproduzindo preconceitos.

De fato a classificação científica do fenômeno religioso cabe a cientistas religiosos, cientistas sociais ou historiadores e não a 'arrivistas' sejam eles jornalistas, apresentadores televisivos, teólogos, juízes ou políticos.

Aqui a autoridade em questão é a autoridade INTELECTUAL DEVIDAMENTE RECONHECIDA OU CIENTÍFICA e não a autoridade jurídica ou política; a qual não cabe nem compete determinar qual seja a essência ou o caráter do fenômeno religioso.

É verdade que os muçulmanos tomam a religião 'em seu sentido mais excelente' por 'religião do livro'; assim o judaísmo ortodoxo, o protestantismo e mesmo o hinduísmo...

Em se tratando do Ocidente 'Cristão' este posicionamento é assumido pelos fundamentalistas protestantes.

De fato esta definição até pode ser internamente válida para eles; coisa diversa todavia é julgar todas as outras formas religiosas por este prisma livresco ou escriturístico, seja muçulmano ou protestante...

Admitido este padrão só nos restaria inferir que cultura iletrada alguma possuí instituições religiosas; o que constitui tremendo absurdo!

Destarte nem aborígenes, nem bosquímanos, nem tsadais, nem halacalufes teriam qualquer tipo de crença religiosa!

Outra monstruosidade decorrente deste falacioso critério seria concluir que as organizações religiosas são todas posteriores a invenção da escrita e que antes desta invenção não havia qualquer organização ou sodalício religioso sobre a face da terra porque não haviam livros!!!

Nem a religião do antigo Egito poderia ser classificada como religião pelo simples fato de não ter possuído uma espécie de Vedas, Tanak ou Corão!!!

Dir-me-a algum sabichão que o livro dos mortos constituia a 'Bíblia' dos antigos egípcios.

Nada mais artificioso e enganador.

Pois sabemos que mesmo durante o Novo Império, quando a fabricação destes livros tornou-se normativa, o texto não havia sido unificado... Só nos restando concluir que se este livro adquiriu de fato o caráter de um oráculo sagrado no contexto da antiga religião egípcia tal só pode ter ocorrido após o ano 1000 a C.

Logo, de 3000 a 1000 a C, ante a existência de qualquer literatura de caráter sagrado, inspirado ou infalível seríamos levados a admitir que não havia religião no antigo Egito!!!

O mesmo se diga dos antigos sumerianos ou mesopotâmicos; cuja forma religiosa jamais esteve em posse de um corpo unificado de escrituras canônicas, inspiradas ou infalíveis; mas de tradições religiosas imensamente vastas e apenas em parte escritas.

Logo, não teria havido verdadeira religião na Mesopotâmia pré Cristã, a exceção do judaísmo antigo!

Mesmo na Índia os primórdios da religião remontariam a tradição oral dos Vedas, i é, a 1500 a C... enquanto na China o advento da 'religião' remontaria no máximo até Lao Tze, que parece ter florescido no século VII a C... aqui nada que vá para além do segundo milênio a C e ali nada que atinja o terceiro milênio... Ficando as gerações mais antigas desta civilizações despojadas de um verdadeiro éthos religioso pelo fato de não possuírem livros religiosos ou escrituras como o judaísmo, o cristianismo e o islã!

Quem não percebe que este modo ou maneira de classificar o fenômeno religioso é não somente anacrônica como altamente preconceituosa tendo em vista eliminar o legado espiritual transmitido por nossos mais remotos ancestrais em benefício de tradições religiosas mais recentes?

Querem os laicos classificar religiões?

Comecem estudando Mircea Elieade, cientista que apresenta o ponto de vista mais satisfatório a respeito; ao menos até o tempo presente. Depois passem aos pesquisadores mais antigos: A Von Reville, Hume, Fullop Muler, etc

Talvez então obtenham fundamentação suficiente para conversar sobre o assunto e não para promulgar decretos e leis similares aquelas que os magistrados romanos, muito pouco informados, promulgaram contra o Cristianismo antigo classificando-o como 'SUPERSTIÇÃO' ou mesmo 'ATEÍSMO' pelo simples fato de que os primitivos Cristãos não prestavam culto a diversos deuses...

Pois bem segundo o ponto de vista unilateral e artificioso dos antigos pagãos ficavam sendo ateus e seu sistema rotulado como vil superstição!!!

E toda esta ideologia preconceituosa tinha por único fim justificar a perseguição que então assolava a Santa Igreja Católica; perseguição ao fim das qual dez milhões de seres inocentes haviam sido assassinados pelo Estado romano!!!

Assim, diante dos repetidos crimes atualmente perpetrados pelos adeptos da 'religião do livro' neste nosso país - Crimes inspirados num volume (Antigo testamento) que justifica, santifica e diviniza a eliminação dos dissidentes religiosos com requintes de crueldade!!! - como a invasão de casas de culto afro brasileiras e diversos casos de agressão e ameaça relatados pelos adeptos deste padrão religioso; nós amantes e amigos da liberdade, tememos que tais classificações ideológicas e arbitrárias sirvam para alimentar ainda mais este clima de intolerância e agressividade!

De fato, antes que novos e exóticos padrões de religiosidade cá chegassem trazidos doutras terras; nossa cultura sempre foi caracterizada pela tolerância e pela convivência até certo ponto harmoniosa entre diversos padrões religiosos; haja vista a arqui secular lavagem do Templo papista do Bonfim - em Salvador, Bh - pelos adeptos das religiões afro brasileiras!

Hoje no entanto, nossa tradição ancestral de tolerância e amenidade vê-se ameaçada pela implantação do mosaísmo antigo... em termos que sequer é praticado pelos atuais judeus!!!

A ponto de alguns psicopatas terem declarado terem exercido atos de violência contra adeptos de outros cultos e credos por estarem acima da lei humana ( i é da Constituição Federal) e dando cumprimento a lei de Deu, ou seja, as leis draconianas do antigo testamento cujo objeto eram os cananeus idólatras.

Hoje para os fundamentalistas brasileiros os cananeus idólatras são os adeptos das religiões afro brasileiras e em menor medida os espíritas, esotéricos, budistas, hindus e até mesmo os papistas; sempre classificados como idólatras e réprobos pela apologética protestante extraída da Torá.

Havendo quem apresente-se como inspirado ou vidente e instigue suas ovelhas a executar a 'lei de deus' i é a atacar os neo cananeus ou idólatras que infestam este grande pais; pois só assim o Brasil viria a ser uma nação feliz, cujo deus fosse o senhor jau ou javé, nume ciumento e sangui sedento dos antigos israelitas...

Cumpre pois reconhecer publicamente o caráter religioso de todas as agremiações ou instituições que estejam voltadas para o sagrado, o numinoso ou o invisível e tendo em vista a paz e a harmônia desta grande nação, conceder a todas e a cada uma delas a proteção da lei sob o prisma da mais absoluta igualdade.

Não implica isto, como querem alguns impedir que os adeptos das diversas religiões condenem-se e excluam-se uns aos outros do ponto de vista espiritual. Reconheçamos que enviar os dissidentes as chamas do mítico averno seja uma prerrogativa inalienável de tais seitas... as quais é perfeitamente defeso amaldiçoar e ameaçar seus oponentes com castigos invisíveis.

Coisa distinta porém é vindicar publicamente a execução dos dispositivos temporais e violentos contidos na lei de Moisés justificando a agressão as minorias religiosas, a punição dos blasfemadores e sacrílegos e a eliminação dos incrédulos ou mesmo do Estado Laico, apresentando-o como ateu e portanto, como oposto a vontade de deus. Este tipo de 'pregação' semelhante aquele que atualmente ecoa em todos os países dominados pelo islamismo, digamos abertamente, não é nem pode ser tolerado pelas pessoas civilizadas e pelas leis.

Assim todas as organizações religiosas, em especial as minoritárias, devem gozar da proteção de nossas humanitárias leis! E todos os atos de violência instigados pela pregação religiosa ou cometidos por elementos religiosos em nome de seus deuses, livros ou credos; punidos com redobrado rigor!!!


O autor identifica-se com o espírito Católico e a Fé Ortodoxa e não adere nem ao relativismo, nem ao ecumenismo. Reconhece no entanto a inviolabilidade do livre arbítrio, o direito de acreditar-se no que se quer e o caráter laicista do Estado como valores essencialmente Cristãos.

sábado, 17 de maio de 2014

Cristianismo, Paulo e o agostinianismo II - A solução protestante




Os protestantes no entanto invertem o esquema e tomam o caminho oposto; adaptando as pastorais e demais epístola a Romanos; por questão de pura e simples ideologia, mas a que preço...

Insistindo no princípio solifideista da salvação pela fé somente bem como na doutrina da corrupção total da natureza, da soberania da graça e da predestinação absoluta; situam o 'abortivo' em contradição não só com os demais apóstolos e Jesus mas consigo mesmo!!! De fato o Paulo de Lutero e Calvino não esta em guerra ou conflito apenas com o Evangelho e os escritos dos demais apóstolos; mas em conflito com suas próprias palavras e testemunhos claramente explicitados!

Evidentemente que a cronologia das epístolas paulinas não pode ser determinada com exatidão matemática; pode no entanto ser traçada com relativa segurança.

Há fortes indícios para acreditarmos que a ordem em que as epístolas foram compostas corresponde quase que exatamente a ordem em que se encontram dispostas no corpo do  N T.

De fato os antigos expositores protestantes - e ainda hoje os mais conservadores - (impregnados pela ideia magico fetichista da inspiração verbal, plenária e linear)  não viam qualquer problema em endossar esta tese; mormente quando sabemos que suas derradeiras epístolas - TM, TT e FLM - encontram-se justamente no fim do 'corpus'; destarte, se o espaço ocupado no NT por parte das epístolas paulinas é relativamente exato; por que o espaço ocupado pelas demais epístolas não haveria de se-lo???

No entanto, conforme a doutrina magico fetichista de inspiração ia perdendo seu prestígio mesmo entre os protestantes, foi necessário fazer alguns reajustes tomados por empréstimo a crítica liberal (embora via de regra os mesmos protestantes encarem a critica liberal como mais ou menos ímpia ou diabólica!); isto com o sentido de 'atrasar' ao máximo a composição da epístola aos romanos; situando-a inequivocadamente após a epístola aos Gálatas ou mesmo, se possível for, após a primeira epístola enviada aos fiéis de Corinto.

Ora toda esta recomposição de datas em torno do corpus paulinum corresponde como já dissemos a uma manobra ideológica cujo fim é evitar a todo custo admitir que Romanos tenha sido, como parecer ter sido, o primeiro ensaio teológico composto por S Paulo; deixando implícito que se trata duma reflexão mais madura...

Observe o amigo leitor que Lutero, calcado na leitura apressada de Romanos, concluiu que Cristo não é nem pode ser, sob qualquer pretexto, uma espécie de 'Novo Moisés' ou legislador do povo Cristão. Admitido isto, ficaria implícito que o Cristianismo corresponde a uma lei ou regra de vida que é preciso observar... indo por água abaixo o belo edifício da salvação larga e fácil pela fé somente.

Não, o Cristianismo jamais poderia ser uma exigência ou um compromisso; apenas oferta e liberdade!

Todavia na Epístola aos Gálatas damos com uma expressão que pode ser classificada como o 'calcanhar de Aquiles' do solifideismo e morte do sistema protestante; tratam-se das palavrinhas gregas: ton nomon tou Christou = LEI DE CRISTO > Gálatas 6,2
No entanto se há uma lei de Cristo, Cristo é legislador e se Cristo quis legislar ou baixar regras de conduta par seu povo somos obrigamos a concluir que DESEJAVA QUE TAIS REGRAS FOSSEM OBSERVADAS PELOS CRENTES i é QUE OS CRENTES REALIZASSEM OBRAS!!! E lá se vai pelo ralo abaixo a doutrina do mistificador alemão!!!
Que fazer então?

Esquecer por um momento a teoria 'ortodoxa' da inspiração magico fetichista e insinuar que ao escrever esta Epístola - no caso a primeira - AINDA ESTAVA PAULO DEMASIADO IMPREGNADO PELO LEGALISMO DOS JUDEUS, do qual veio finalmente a libertar-se na Epístola de ouro: Romanos. A qual por isso mesmo situam no mínimo em quarto lugar ( i é após Gl e as duas Tss) ou mesmo, se possível em sexto lugar: i é após as três epístolas citadas mais as duas enviadas a congregação de Corinto!

Isto se faz conveniente ou até necessário devido a clássica passagem de I Cor 13, 13: "Por ora permanecem a fé, a esperança e a caridade; NO ENTANTO A MAIOR DAS TRÊS É A CARIDADE."
No entanto se nos salvamos sem obras, isto é sem a caridade; mas pela fé somente é obvio que o poder e a capacidade da fé é superior ao da caridade E QUE A FÉ DEVE OCUPAR O PRIMEIRO LUGAR!!! Como de fato foi explicitamente ensinado por Lutero.

O sentido deste texto é tão claro que Ortodoxos, papistas, espíritas e moralistas tem feio dele seu escudo contra as baboseiras protestantes no decurso de quase cinco séculos...

Que fazer então? Malabarismos e ginásticas mentais com o intuito de demonstrar que a caridade é superior a fé EMBORA NÃO SEJA NECESSÁRIA A SALVAÇÃO??? Ou o que é ainda mais vergonhoso, declarar que a verdadeira caridade consiste em exercer a fé ou que são a mesmíssima coisa, quando Paulo neste mesmo trechos separa muito bem uma da outra???

Entre a cruz e a caldeirinha os protestantes recorrem mais uma vez ao artifício cronológico: De fato aqui Paulo parece ensinar que a Caridade é superior a fé; algum tempo depois no entanto - quando escreveu a epístola dourada ou o 'Evangelho protestante' - tendo se informado melhor ou refletido o 'Paulo maduro' estabelece inequivocadamente o primado da fé e a doutrina da salvação pela fé somente; i é sem esperança, caridade ou qualquer outra coisa...

No entanto como não podem eles - os exegetas, apologistas e teólogos protestantes - situar a Epístola aos romanos para além de todas as outras; apresentando-a como uma espécie de TESTAMENTO DE PAULO, laboram em vão... pois para além de Romanos continuam todas as epístolas pastorais; além de Filipenses...

O que obrigaria nossos protestantes a admitir que Paulo virou a casaca novamente e mudou mais uma vez de posição.

Pois se em Romanos parece ensinar a superstição rabínica da predestinação com base nas tolices do A Testamento; em Filipenses é explicito: TRABALHAI POR VOSSA SALVAÇÃO COM TREMOR E TREMOR, e lá se vai o monergismo e a doutrina da incapacidade para cooperar com a divina graça; e por consequência a da possibilidade de não cooperar ou de resistir a ela e; consequentemente, o decreto horrendo imaginado por Calvino a partir dos ensinamentos de Agostinho...

Tanto pior se abrimos a I epístola enviada a Timóteo; em que damos com uma expressão ainda mais ousada: A VONTADE DE DEUS É QUE TODOS OS HOMENS SE SALVEM!!!

Que se salvem, não que se percam! Logo a suposta condenação eterna de parte dos seres humanos não corresponde a vontade divina; donde só nos resta inferir que se deve a uma resistência, livre e consciente, por parte dos mesmos seres humanos a proposta de Jesus Cristo ou ao anuncio do Evangelho, ALIAS POR DECRETO DIVINO DIRECIONADO A TODAS AS CRIATURAS SEM EXCEÇÃO E NÃO APENAS A ALGUMA CATEGORIA ESPECIAL DE SERES HUMANOS.

Conclusão: ou a ideia que os protestantes fazem sobre a referida passagem de romanos esta errada; ou o próprio Paulo da maturidade; rompeu com a crença rabínica da predestinação, abraçando a teoria do livre arbítrio; o que supõe a capacidade do homem redimido para colaborar com Cristo em termos duma necessidade... pressupondo uma lei de Jesus Cristo e a necessidade de obras; mesmo encaradas como consequências da justificação e evidência externa 'sine qua nom' pode o fiel pressupor que esta em comunhão com Jesus Cristo ou justificado!

Assim em Tito damos com outras duas passagens bastante esclarecedoras: "QUE OS CRENTES APLIQUEM-SE AS BOAS OBRAS." 3,8 uma vez que constituem evidência externa e necessária do ato regenerador segundo os protestantes obtido pela fé... neste caso, inexistindo as obras, devemos concluir que inexiste JUSTIFICAÇÃO (uma vez que as obras são seus frutos) ou porque inexiste verdadeira fé ou porque a fé não seja suficiente pata justificar. Por outro lado se a falsa fé é estéril e isenta de obras somos obrigados a concluir que a verdadeira fé ESTA SEMPRE ACOMPANHADA PELAS OBRAS I É PELA CARIDADE E QUE FALTANDO A CARIDADE NÃO HÁ NEM JUSTIFICAÇÃO NEM SALVAÇÃO... Ou seja de um modo ou de outro desaba o edifício protestante.

Pois como causas ou frutos (Calvino) as obras tornam-se NECESSÁRIAS... donde se infere que não podem os homens salvar-se sem elas (mesmo enquanto frutos - pois os frutos constituem evidência externa ou visível da ação exercida na alma pela fé justificante!); daí dizer Jesus: pelos frutos - ou boas obras - os conhecereis; isto é os verdadeiramente remidos que deve e nele vivem...

Assim o mesmo Paulo ousa declarar (como João já o havia feito): (TT 1,16) "OS DESOBEDIENTES E INAPTOS PARA QUAISQUER BOAS OBRAS SÃO ABOMINÁVEIS E SEU CONHECIMENTO A RESPEITO DE DEUS É FINGIDO."

Pois: "Não pode a árvore boa produzir maus frutos."

Ou seja viver pecando continuamente, por hábito; e estar em Jesus Cristo, ter sido verdadeiramente justificada e salvar-se. Mesmo que - como ensinam os falsos profetas - viva implorando perdão com a boca, para em seguida tornar a pecar e sucessivamente até o fim da vida: produzindo obras más e frutos podres. Assim os filhos de Deus procederão santamente como filhos de Deus enquanto os 'do maligno' procederão como filhos dele; produzindo obras más...

Conclusão: Ou Paulo intentará ensinar a mesma coisa em sua primeira tentativa teológica - Romanos - ou sua compreensão a respeito do mistério Cristão tornou-se cada vez mais nítida em Gal, Fil, Tm e TT... numa perspectiva gradual. Ou nosso homem sempre esteve de pleno acordo com os demais apóstolos e Jesus Cristo a respeito do processo de regeneração ou veio a assimilar gradativamente o ensinamento deles a respeito desta doutrina.

Verificando-se a primeira hipótese inferimos que Paulo não soube nem pode expressar-e com acuidade e exatidão na Ep aos romanos; verificando-se a segunda hipótese constatamos que sua compreensão a respeito da fé passou por fases e períodos diferentes numa perspectiva evolutiva, i é que seu conhecimento a respeito de Cristo foi ampliando-se cada vez mais.

Caso sacrifiquemos todos os outros testemunhos deixados pelo apóstolo para firmar-nos, como Lutero, exclusivamente em romanos não temos sequer paulinismo; mas um paulinismo mutilado i é um 'romanismo'... Caso sacrifiquemos os outros apóstolos e JESUS para ficarmos apenas com as palavras de Paulo acomodadas artificialmente a Romanos estamos diante do paulinismo.

De fato certos setores do protestantismo, supervalorizando a figura do grande apóstolo a ponto de obscurecer e fazer sombra ao VERBO DIVINO, adotam uma perspectiva paulinista e nem podemos declarar ou admitir que sejam Cristãos autênticos...

Pois o Cristão deve colocar o Emanuel Jesus Cristo acima de todas as criaturas e recebe-lo como supremo e definitivo Instrutor...

Implica esta constatação em repudiar a alegação protestante segundo a qual o agostinianismo teria seu ponto de partida neste apóstolo e consequentemente no Evangelho; e admitir - segundo as evidências históricas - que a raiz do agostinianismo encontra-se fincada (Como foi já apontado por Juliano de Eclano, Teodoro de Mopsuestia e S Fócio) NO TERRENO DA HERESIA MANIQUEÍSTA, da qual o Bispo de Hipona fora partidário fervoroso e de cujo legado jamais puderá esquivar-se de todo.

Assim os princípios protestantes da corrupção da natureza, da soberania da graça e da predestinação particular derivam de uma visão maniqueísta de mundo em torno da qual o protestantismo tem orbitado até o tempo presente e da qual jamais foi capaz de libertar-se afirmando-se como uma das formas mais virulentas de anti humanismo.



Cristianismo, Paulo e o agostinianismo I - O problema




Enquanto parte dos teólogos e doutores papistas insinue que os 'princípios' ou 'Solas' do protestantismo tenham sido forjados 'ab ovo' pela mente fantasiosa do Dr Lutero; é sabido que ao menos alguns destes princípios remontam a Agostinho de Hipona.

Assim a ideia de uma corrupção total da natureza humana, da qual decorre a teoria da soberania da graça, a partir da qual os opositores de Agostinho - como Juliano de Eclano - e seus legatários teológicos - como Goteschalck, Lutero e Calvino - inferiram a teoria da predestinação particular em termos positivos; inclusive para a exclusão ou como dizem para a condenação.

De fato, durante toda a Idade Média esteve a Igreja latina ou romana cindida entre dois partidos: o semi pelagiano; fiel a primitiva tradição Católica e - neste sentido - em comunhão com a Igreja grega ou oriental (Ortodoxa); e o agostiniano, que com o passar dos séculos foi tornando-se cada vez mais forte, até descambar na 'Revolução' protestante e no Concílio de Trento, por meio do qual os Bispos romanos vieram finalmente a canoniza-lo com o intuito - alias frustrado - de converter os protestantes.

Cabe aqui uma indagação crucial: Quais as raízes do protestantismo ou melhor do agostinianismo?

Aqui a consciência protestante responde quase que a uma só voz: Lutero e Calvino partiram de Agostinho, Agostinho partiu de Paulo e Paulo certamente partiu de Jesus; conclusão: era Jesus protestante ou melhor luterano/calvinista.

Ainda segundo este ponto de vista foram Orígenes, Juliano de Eclano e Pelágio que introduziram no corpo da fé a teoria pagã do livre arbítrio! Reintroduzida no protestantismo por J Arminius... o 'Pelágio protestante'.

Agora qual o posicionamento da consciência Católica, da fé Ortodoxa e da própria História face ao ponto de vista protestante???

Cumpre aqui esclarecer que o ponto de vista protestante é bastante vulnerável por diversas razões.

Antes de tudo porque as epístolas de Paulo foram escritas em GREGO> Ora o próprio Agostinho nas 'Confissões' admite ser péssimo entendedor em matéria de grego...

Já os padres gregos, cuja compreensão do sentido era SEMI PELAGIANA - como admitem inúmeros eruditos protestantes como Grotius, Leibnitz, Harnack, Tillich, etc - estavam familiarizados com o original inspirado... fica difícil compreender por que o latino Agostinho teria dado com o sentido ignorado por todos os expositores gregos da mais remota antiguidade!!!

Admitamos porém a possibilidade de que a cultura filosófica dos comentaristas gregos tenha impedido a perfeita assimilação do pensamento paulino enquanto que o despreparo - ou ignorância - do Bispo de Hipona (em matéria de Filosofia) tenha-o predisposto para tanto...

Acontece como diria meu velho pai, que 'O buraco é tanto mais embaixo.' i é que o Novo Testamento não se restringe ao 'Corpus paulinum', havendo outras tantas partes como a pena Evangélica e as Epístolas dos demais apóstolos... partes que a teologia protestante 'ortodoxa' jamais levou em consideração, como acentua "Dale Owen" na 'Região em lítigio..."

O próprio Lutero foi explícito em declarar que suas fontes eram as epístolas paulinas - em especial Romanos - e o quarto Evangelho. Desdenhando por exemplo as narrativas de Mateus e Lucas bem como a Epístola de S Tiago, A QUAL CLASSIFICOU COMO 'PORCARIA' E RETIROU DO CANON DO NT... embora depois os protestantes tornado a introduzi-la; em que pese a incompatibilidade irredutível existente entre a visão de seu 'mestre' e a doutrina ensinada pelo 'irmão do Senhor'.





Desde então a 'exegese' protestante tem recorrido a todo tipo de sofistas, malabarismos e estratégias com o intuito de obscurecer o sentido da Epístola jacobina, segundo os princípios fluídicos e subjetivistas do livre examinismo... Assim tudo ajeitam e manipulam com o intuito de fazer Tiago concordar a todo custo com a interpretação luterana de romanos... ( Embora ele tenha declarado em alto e bom som: 'A FÉ SEM OBRAS É MORTA EM SI MESMA!'; 'morta em si mesma' i é sem vida, isenta de vida! E NO ENTANTO LUTERO DISSE QUE ESTA FÉ SOMENTE VIVIFICA!!!)


Acontece que o testemunho de Tiago não se encontra isolado; antes mais parece com a ponta de um Iceberg, em comparação com o testemunho dado em dúzias de versículos na primeira Epístola de S João.

Na qual damos com o testemunho claro, objetivo e positivo de que os que foram associados e unidos a Jesus Cristo pela fé, a esperança e a caridade NÃO PODEM MAIS PECAR PECADO DE MORTE, isto é pecado grave, capaz de aparta-los do Senhor: 'Aquele que pertence a ele não vive pecando.' declara o comendador de Jesus Cristo; e acrescenta 'Aquele que diz ama-lo e não observa seus mandamentos é MENTIROSO.' e mais 'Todo que vive pecando é DO MALIGNO' etc, etc, etc

Assim quando nossos protestantes dão com alguém familiarizado com este escrito e portanto imunizado contra a doutrina do 'solifideísmo' costumam dar de ombros e argumentar que desconheciam ou ignoravam a existência de tais testemunhos: logo eles cuja atividade consiste em examinar freneticamente os registros sagrados... Parece no entanto que andam examinando nos lugares ou partes erradas; certamente no Antigo testamento, e perdendo de vista os testemunhos de João, Pedro, Tiago e do próprio Evangelho; como se tudo fosse Paulo e nada houvesse além de Paulo nos registros do N T...




No entanto caso nos dirijamos a Pedro damos com a mesma doutrina: "A caridade ( e não a fé ) cobre uma multidão dos pecados...

Agora que diz S Mateus???



Como bom Católico Ortodoxo ou digamos 'pelagiano', 'arminiano' ou 'wesleyano', declara: 'SURGIU UM SALVADOR QUE SALVARÁ ESTE POVO    DOS   SEUS PECADOS' i é capacitando-os para que se tornassem 'PERFEITOS COMO O PAI CELESTE É PERFEITO.', CESSANDO DE PECAR (ao menos pecado 'para a morte' ou seja pecado grave, capaz de separar o servo de seu mestre e faze-lo perecer espiritualmente).

Do contrário diria S Mateus com o 'novo evangelista' Lutero que Jesus manifestou-se para salvar o povo EM seus pecados i é vicariamente, limitando-se a ser castigado por ele e a cobrir todos os seus crimes, taras, vícios, abominações e monstruosidades COM SEU PRECIOSO SANGUE afastando a suposta 'cólera divina' e as terríveis punições eternas do inferno...

No entanto Mateus é suficientemente claro: Jesus veio salvar seus servos por meio duma regeneração interna e eficaz, i é salva-los do mal e do pecado capacitando-os para viverem santamente segundo sua santa vontade! Coisa que Lutero não era capaz de compreender por questões de ordem pessoal, como reconhecem Dale Owen e uma multidão de Luteranos: de Melanchton (auxiliar de Lutero) ao Dr Hausrath!!!

Destarte, elencados os testemunhos de Pedro, João, Tiago e Mateus; resta-nos indagar qual seja o testemunho do mestre!

Ei-lo: "ASSIM SABERÃO QUE PERTENCEIS A MIM: SE VOS AMARDES UNS AOS OUTROS." i é não pela fé somente mas pelo amor; pois "NÃO É AQUELE QUE CLAMA SENHOR, SENHOR QUE ENTRARÁ NO REINO CELESTIAL, MAS AQUELE QUE EXECUTA A VONTADE DE MEU PAI." e noutro passo: "AQUELE QUE HOUVE MINHAS PALAVRAS E NÃO AS COLOCA EM PRÁTICA É COMO ALGUÉM QUE CONSTRUIU SUA HABITAÇÃO SOBRE A AREIA, VIERAM AS CHUVAS E OS VENTOS E SUA HABITAÇÃO CAIU!"... do que resulta, naturalmente o quadro do juízo esboçado pelo Mestre no vigésimo quinto capítulo do primeiro Evangelho, um juízo ético ou moral em termos de obras e não em torno de teorias ou de crenças apenas.

Pois ele não pergunta a suas ovelhas: Acreditastes na capacidade remidora do meu sangue? Mas: TIVE FOME E ME DESTES DE COMER, TIVE SEDE E ME DESTE DE BEBER, etc Aqui outra cruz para a teologia protestante...

Alias enquanto Lutero faz do Evangelho um caminho largo e fácil ou apenas uma oferta, Jesus apresenta-o como caminho áspero e estreito e compara-o a sua cruz!!! Declarando que seus servos tomassem essa cruz E QUE 'COM PACIÊNCIA SALVASSEM SUAS ALMAS' tudo suportando por amor a ele...

Eis a fonte doutrinal em que beberam: Mateus, Pedro, Tiago e João: AS PALAVRAS DO DIVINO MESTRE, EVANGELHO PURO E PERFEITO!!!

Agora os protestantes murmuram: MAS PAULO... ACONTECE QUE PAULO... PAULO PORÉM!!!

Reclamam que os papistas fizeram de Pedro um super apóstolo enquanto fazem o mesmo com Paulo; convertendo-o numa espécie de oráculo ou papa...

Acontece que Paulo não poderia discordar dos demais apóstolos ou de Jesus... agora admitida a hipótese segundo a qual bem pudesse faze-lo só nos restaria concluir: Aqui Paulo errou feio!!!

Assim devemos levar em conta diversos fatores ao apreciar o posicionamento deste apóstolo.

Em primeiro lugar que ele foi o primeiro autor cristão a tentar explicar ou expor a boa nova do Evangelho em termos teológicos ou racionais; devendo para isso criar ou forjar um vocabulário completamente novo com que expressar tais doutrinas; e por certo um vocabulário inexato e defeituoso ao menos em suas epístolas mais antigas...

Donde S Pedro declara com toda razão: "Há nas epístolas de nosso querido irmão Paulo, cheio de sabedorias. certas passagens DIFÍCEIS, que os ímpios deturpam para sua vergonha." i é justamente as passagens sobre as quais Lutero buscou fundamentar seu sistema teológico.

Assim em segundo lugar devemos compreender que Paulo escreveu cerca de uma dúzia de epístolas ao cabo de quase duas décadas no decurso das quais sua linguagem e quiçá sua fé foi se tornando mais pura, refletida e madura. Assim do mesmo modo como para conhecer o pensamento 'acabado' de Marx devemos recorrer as obras da maturidade e velhice e não as da juventude; para compreendermos o pensamento paulino em toda sua extensão e profundidade devemos recorrer aos escritos do Paulo maduro ou mais velho!

Afinal é perfeitamente possível que a princípio Paulo não tivesse logrado assimilar toda riqueza do mistério da fé; a qual mais tarde porém veio a conhecer com maior exatidão, profundidade e amplitude; segundo passou a conviver tanto mais intimamente com os Santos Apóstolos i é com as 'Testemunhas oculares da palavra' que 'Com suas mãos palparam o Verbo da vida'; ou ao menos que aperfeiçoa-se suas expressões ou palavras tornando-as mais claras e acessíveis.

Mesmo os comentaristas protestante 'ortodoxos' em geram reconheceram que há mais simplicidade e claridade nas derradeiras epístolas compostas pelo grande apóstolos i é em suas epístolas pastorais!

Alias o pensamento e a linguagem de Paulo transformaram-se de tal modo e maneira no decorrer de sua reflexão teológica que a partir do século XIX, os protestantes liberais ventilaram a tese segundo a qual parte do 'corpus paulinum' seria produto de elaboração posterior ou de falsificação; desde então a maior parte dos críticos tem classificado algumas epístolas como autênticas, outras como duvidosas e outras tantas como falsas... Tal e versatilidade ou complexidade do autor.

Aparentemente parece que temos diante de nós vários paulos ou personagens distintos; embora estejamos na verdade diante do mesmo homem em situações distintas de sua carreira i é perante o Paulo jovem e o Paulo mais maduro... cuja compreensão da fé passou por distintas fases ou apreciações.

Assim toda prudência obriga o estudioso do pensamento paulino a interpretar Romanos a luz das epístolas pastorais e não o contrário!!! Pois ali em suas últimas cartas encontra-se seu pensamento mais avançado e compreensível.