quinta-feira, 27 de junho de 2013

Uma fábula contemporânea





Eu ia escrever sobre os rumos anti-democráticos que as manifestações tomaram, se tornando de cunho altamente nacionalista e, portanto fascista. Mas mudei de ideia, prefiro escrever uma fábula, é isso que vocês meus leitores vão ler.

Era uma vez, não é de bom tom começar um texto dessa forma. Então que tal começar assim? No princípio reza o livro do Gênesis que Deus criou os céus e a terra mas os tempos foram sucedendo-se uns aos outros e chegamos num país chamado Brasil.

Semeadores haviam plantados árvores cujos frutos davam um leve sabor de liberdade e, também plantaram árvores do socialismo, árvores vermelhas, cujos frutos também vermelhos eram chamados de socialismos. Mas em meio essas plantações surgiram umas formigas que a princípio não destruía essas plantações, o problema é que apareceram gafanhotos que do alto  jogavam sementes de joio que num instante cresciam e ficavam adultos, o joio mais jovem era verde e o joio maduro era amarelo e esse joio ia tomando cada vez mais espaço porque essa espécie de gafanhoto se reproduzia em meio ao joio.

Essa espécie de gafanhotos tem um aguilhão na cabeça com um veneno que se introduzido em outros insetos  atinge o sistema nervoso desses mesmos insetos e assim se tornam zumbis, obedecendo aos comandos dos gafanhotos. Ora as formigas, foram picadas por esses gafanhotos, umas semeavam joios e outras destruíam as árvores vermelhas bem como seus frutos.

O grande problema é que se os gafanhotos destruírem  as árvores vermelhas com seus frutos, depois vão destruir a todos os outros seres vivos, vão se alimentar deles e somente sobrará neste lugar gafanhotos e joios que por fim destruirão ao joio e depois  destruirão a si mesmos pela lei do mais forte.

Moral da história, bom , isso eu deixo por conta dos leitores.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

O PT é corrupto?



Nos últimos dias jovens despolitizados saíram às ruas para entre outras coisas pedir o impeachment da presidente Dilma e outros pediram o retorno dos militares no governo. A pergunta que fica no ar é: O PT  é corrupto? Sem dúvida, o PT  é corrupto mas qual partido não é? O problema não é o governo em si mas a forma do governo, é essa forma de governo que faz o mesmo ser corrupto, então qualquer partido que esteja à frente de um município, de um estado ou do país vai ser corrupto, por um simples motivo, quem governa precisa de apoio, não governa sozinho, porque não estamos numa ditadura. 

Ora, numa eleição o prefeito precisa da maioria na câmara dos vereadores, o governador precisa da maioria na assembleia legislativa e o presidente precisa da maioria no senado e na câmara dos deputados. Se a maioria não for de seu partido o prefeito, o governador e o presidente vai ter que conversar com os partidos "amigos" e "indecisos" e fazer barganha para conseguir que seus projetos sejam votados e aprovados nas casas. Se o governo (fica subentendido como governo prefeito, governador e presidente) não tem a maioria não consegue governar e aí tem duas alternativas ou não governa e fica limpo ou governa e se corrompe, é evidente que vai se corromper para que seus projetos sejam aprovados.

Então a questão não é saber se a presidente Dilma é ou não corrupta e se o PT é ou não corrupto, a questão é o que faz com que os partidos se tornem corruptos? É o sistema de governo que propicia isso, então qualquer governo que estiver à frente de um município, estado e do país, vai ser corrupto porque vai ter que fazer alianças, vai ter que ceder para ter apoio ou não governará, simples assim, isso se chama democracia representativa brasileira.

domingo, 16 de junho de 2013

Apologia do Socialismo - As base da crença liberal: Individualismo primitivo II

Foi classificado o homem pelos individualistas como ente isolado e solitário.

Enquanto foi classificado pelo 'estagirita' como um ente social, político ou gregário.

Para descobrirmos quem esta com a razão ou quem acertou devemos antes de tudo colocar-nos em nosso devido lugar.

Digo, compreender com exatidão, qual seja nossa condição no mundo natural.

Biologicamente falando pertencemos ao grupo metazoa 1 ou animalia (animal) e a menos que alguém revindique para si o posto de mineral ou vegetal considerarei esta afirmação como 'ponto pacífico'.

Somos animais, ou como declarou o mesmo 'perípato' "animais racionais" ou seja capazes de pensar abstratamente, de raciocinar, de refletir, de planejar...

Por mais que os fanáticos e obscurantistas aleguem que somos frutos duma criação específica ou distinta, a estrutura mesma do nosso corpo - vide o esqueleto humano comparado com o do chipamzé por exemplo e os primeiros estádios da progressão embriogênica - depõe contra esta explicação mitológica.

Assim, enquanto 'homo sapiens' ou 'homem que sabe'  - e que portanto é capaz de conhecer perfeitamente sua condição e origem - é a biologia, etologia, e primatologia que devemos consultar para saber o cárater de nossos ancestrais.

Quanto aos primatas, que são nossos parentes mais próximos, todas as pesquisas, invariavelmente tem demonstrado que eles nada sabem, em absoluto, sobre o 'primado do indivíduo' e que todas as espécies conhecidas são precipuamente gregárias. Queremos dizer com isto que as relações pessoais existentes entre todos os membros desta ordem, estão envolvidas por uma tecitura de relações sociais bastante complexas, tendo em vista a prevalência da solidariedade...

Em que pese a tão decantada 'concorrência' ou a rivalidade existente entre as ordens e espécies distintas; ESTE ESTADO CONFLITUOSO - ao menos no que tange a nossos parentes e ancestrais mais próximos - NÃO ALTERA EM NADA AS RELAÇÕES INTRA GRUPAIS, AS QUAIS CONTINUAM SENDO REGULADAS PELAS NECESSIDADES GERAIS DE ESPÉCIE E JAMAIS POR QUESITOS DE NATUREZA INDIVIDUAL.

Só nos resta inferir que ao menos entre os membros de nossa espécie deveria prevalecer a colaboração.

De fato Chimpamzés exercem adoção, conhecem o luto, são solidários para com os seres humanos, fruem uma dimensão ética da existência.

De fato Thomas Hobbes errou feio ao postular um conflito generalizado entre indivíduos. E seus continuadores, arquitetos do 'homo solitarius' erraram ainda mais feio na medida em que atribuíram a todos os membros de nossa espécie e da espécie em geral, uma natureza individualista.

Como inexistem primatas individualistas, a menos que a natureza tivesse dado um gigantesco 'salto', nossa espécie teria passado a cultivar o individualismo...

De fato o conflito ventilado por Hobbes teria fundamento concreto caso fosse atribuído a grupos ou sociedades humanas e não a indivíduos isolados uns dos outros.

Alguns sociólogos e historiadores diante da significativa lentidão com que o progresso técnico foi cultivado pelo homem primitivo e, em que pese a inexistência de meios de transporte eficientes e de códigos escritos; supõe a existência de um estado de conflito mais ou menos generalizado, entre os primeiros grupos humanos.

A existência deste tipo de conflito todavia, em nada favorece o credo individualista. Pois estamos diante de conflitos sucedidos entre 'sociedades' e não de conflitos sucedidos entre indivíduos. Efetivamente este estado natural de conflito entre os diversos grupos, clãs ou tribos subsistiu por muito tempo neste continente e subsiste ainda - ao menos como forma de antipatia - entre as culturas mais primitivas da África e da Ásia.

No entanto este mesmo homem primitivo que dá combate sem tréguas ao membro da tribo ou do clã rival; identifica-se até diluir-se por completo em seu próprio grupo ou clã; sendo inclusive capaz de imolar-se ou de sacrificar a vida por qualquer membro de sua tribo...

Destarte, no interior de cada grupo social, impera soberanamente a fraternidade ou a solidariedade mecânica.

Conhece pois o 'selvagem' e põe em prática o éthos da cooperação, da solidariedade e mesmo do altruísmo; inda que numa esfera tanto mais limitada e restrita, e por que?

Apenas porque ignoram o conceito biológico de espécie e a identidade genética existente entre todos os grupos que formam nossa espécie.

Devido a dispersão dos diversos grupos humanos pelas diversas porções do planeta, a falta de contato provocada pela inexistência de meios de transporte e comunicação eficientes, o isolamento cultural, etc tornou-se impossível o cultivo da solidariedade em termos universais...

Bastante cedo os grupos adotaram divindades distintas de cárater belicoso e consideraram a si mesmas como produtos de criações divinas especiais, ou seja, sem quaisquer vínculos reais com os demais grupos, produzidos noutras circunstâncias por seus próprios deuses... Dentro desta contextura não pode haver lugar para a colaboração, a alteridade e o socialismo; porque não há qualquer princípio de identidade. E como os deuses primitivos são tão guerreiros quanto os povos que conceberam-nos, o princípio já existente do conflito é ainda mais reforçado pela religiosidade primitiva... cada povo ou nação luta por seu 'deus' e esta luta é apenas reflexo duma luta cósmica entre os deuses...

Apesar disto cada pessoa identificava-se com seu grupo e ninguém sequer imaginava a própria existência a não ser dentro do corpo social em que viera a luz...

Os moralistas apenas ampliaram a aplicação da solidariedade orgânica, sempre existente, a espécie ou seja a grande família humana; isto na medida em que os meios de transporte e comunicação tornavam-se mais eficientes, a ordem política tornava os grupos menos violentos, o cárater dos deuses tornava-se mais benevolente, os preconceitos religiosos iam sendo postos de lado, a reflexão filosófica cumpria seu papel... e esta ampliação, produziu a ideia duma sociedade universal (correspondente ao conceito biológico de espécie) e o discurso socialista.

Diante disto só nos resta concluir que o socialismo apenas corresponde a evolução de um comportamento social primitivo - a solidariedade mecânica - que parte de nossa condição mesma de primatas.

O tipo ideal do individualismo o 'homem solitarius' isolado do grupo social corresponde a uma quimera que jamais existiu, e, segundo Marx Nordau, a um tipo problemático cuja aparição diz respeito aos momentos de crise enfrentados pela civilização.




sábado, 15 de junho de 2013

Apologia do Socialismo - As base da crença liberal: Individualismo primitivo

Não erramos caso definamos o liberalismo econômico como uma forma ou categoria de Individualismo relacionado com a produção, distribuição e consumo de bens.

Pois segundo os teóricos clássicos o fundamento não é apenas a livre iniciativa mas a livre concorrência. Os indivíduos rivalizam ou concorrem uns com os outros tendo em vista o sucesso econômico ou a obtenção de uma maior margem de lucro.

Segundo esta perspectiva qualquer tipo de interferência exercida pelo grupo ou corpo social não é apenas indesejável mas verdadeiramente nociva e a cooperação desnecessária.

Eis porque a mais refinada forma de 'liberalismo' o anarco capitalismo - expressão forjada pelo economista Norte americano Murray Newton Rothbard - advoga a supressão de tudo quanto denominamos estado e, consequentemente o desaparecimento da vida política e benefício das relações puramente econômicas em termos de mercado. Visão da qual D Friedman, filho do neo liberal Milton Friedman, fez-se o principal paladino.

Em termos puramente econômicos Rothbard é legatário do pensamento de Ludwig Von Mises (um dos patriarcas do círculo de Viena e miniarquista). Quanto a generalidade da teoria Rothbard faz petição a Frederic Bastiat, economista francês e ferrenho adversário do socialismo; Gustave Molinari, sucessor e continuador de Bastiat; Julius Faucher, Lysander Spooner e Benjamin Tucker. Por Molinari, Bastiat e Faucher chegamos ao calvinista Jakob Mauvillon o qual em pleno século XVIII susteve a privatização de todos os serviços, inclusive do ensino e dos correios...

Por Benjamin Tucker chegamos a Friedrich Nietzsche e a ideia do super homem, bem como a Herbert Spencer, o pai do 'Darwinismo social'... Outra possível fonte é a apóstola do egoísmo racional ou do individualismo crasso Ayn Rand...

Ulrik Heider no entanto, confirmando nossas suspeitas e dando-as por fundadas, aponta o alemão Kaspar Schmiedel ou Max Stirner (autor no 'Uno e sua propriedade') como o mais remoto ponto de partida do liberalismo crasso. "Stirner susteve a abolição não apenas do estado MAS DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL COMO UM TODO ENQUANTO ÓRGÃO DO MUTUALISMO SOLIDÁRIO... O ESTADO DEVE SER SUBSTITUÍDO POR SIMPLES AGREMIAÇÃO DE EGOÍSTAS." refere o já citado autor.

Era pois de se esperar que mais cedo ou mais tarde o individualismo econômico - de Smith, Petty e Ricardo - e o individualismo crasso ou político/social - de Stirner, Nietzsche e Rand - acabassem por unir-se ou por formarem uma só coisa. O Matrimônio foi oficiado por Rothbard servido D. Friedman como padrinho... Aqui não se trata duma união híbrida mas duma união necessária por força de coerência...

Para ser honesto e coerente tinha o liberalismo que assumir esta derradeira forma a qual por sinal representa seu próprio desenvolvimento em termos de lógica interna e seu estádio mais aperfeiçoado. Nem podemos deixar de reconhecer que em termos de coerência, lógica e honestidade os anarco capitalistas levam a palma entre os liberais...

Nem se pode compreender como Auberon e seus miniarquistas que tanto criticam os investimentos e serviços públicos nas áreas da saúde, educação, habitação, legislação trabalhista, etc Sustentem a necessidade de manter a polícia e o exército, apenas com o intuito de conter as massas trabalhadoras no respeito e de proteger as imensas fortunas amealhadas pelos patrões... isto é com o objetivo de 'manter a ordem' isto é o sistema economicista liberal por meio da coerção e da violência.

Face a este intervencionismo invertido ou seja a favor dos ricos; face a este modelo oportunista de estado, face a este estado 'burguês'; o credo anarco capitalista parece até um pouco mais ameno...

Investiguemos no entanto o fundamento comum a um e outro, ou seja, ao liberalismo econômico como um todo; o individualismo.

Salvo engano de nossa parte a primeira sugestão a respeito dum individualismo natural cujas raízes penetram até a Idade Primitiva, encontra-se no 'Leviatan' de 'Hobbes' obra em que damos com o afamado termo: "Bellum omnia omnes" ou Bellum omnium contra omnes ou guerra de todos contra todos. Esta expressão revela muito claramente que o pensador político inglês imaginava o homem primitivo com um individuo isolado e em situação de conflito com os demais membros da espécie... 

Esta ideia parece ter sido retomada por outros autores, inclusive em certa medida por Russeau, até cristalizar-se no pensamento dos anarco individualistas como Stirner e Rand e dar origem a uma autêntica mística ou metafísica tecida em torno da expressão: "INDIVIDUALISMO NATURAL"

Implica tal expressão em admitir que de certo modo e em certo sentido faz o individualismo parte da natureza ou da condição humana dela emanando como a luz e o calor emanam de um corpo ígneo... De modo que, salvo em situações de repressão, o individualismo tende a aflorar nos membros da espécie correspondendo certamente ao tipo do homem primitivo, vagando pelo mundo sempre só com sua família...

Todo um ideal ou imagem do homem primitivo foi concebido nestes termos e mantido até o tempo presente, constituindo a base do credo liberal em seus diversos níveis... Todos no entanto, com mais ou menos intensidade, professavam fé na existência deste 'homo solitarius' verdadeiro antípoda do 'animal social' ou político de Aristóteles...








sexta-feira, 14 de junho de 2013

Bolsa família - uma perspectiva histórica






Para que possamos compreender a mentalidade e os objetivos daqueles que desejam a suspensão da 'Bolsa família' convém analisar o discurso que durante as primeiras décadas do décimo nono século pleiteou a supressão do Sistema Speenhamland.

Iniciativa adotada pelos magistrados de Speenhamland, Berkshire; em 06 de maio de 1795 o 'Sistema Speenhamland' consistia em conceder aos agricultores mais pobres um abono ou auxílio em dinheiro, suficiente para que pudesse adquirir pão e consequentemente alimentar-se. O auxílio em questão correspondia ao número de filhos tendo em vista que criança alguma passasse fome. Sempre que o preço do trigo subia, o valor do benefício cobria os custos e garantia sua aquisição.

A primeira das advertências a serem feitas a propósito do sistema de 'Speenhamland' é que desde o princípio contaram com a oposição e crítica cerrada dos liberais. 

O primeiro golpe desferido em 1797 partiu do liberal Frederick Éden...

Na 'Situação dos pobres de Inglaterra' ele atacou o sistema de Speenhamland como sendo um 'Impedimento ao progresso agrícola nos campos'... Desejava ele que o jornaleiro completasse as dezesseis ou dezoito horas de trabalhado necessárias para 'adquirir o pão com o suor de seu rosto' e deplorava que após oito ou dez horas de trabalho abandonassem o eito e tornassem a casa, sabendo que o quanto faltasse seria completado pelo benefício...

E o último de Harriet Martineau, a qual assim se expressou:

"Estes homens favorecidos pelo abono, eram um obstáculo a contratação de homens mais dedicados, dispostos a trabalhar duramente por sua sobrevivência; de modo que todos acabavam por acomodar-se..."

Como sempre a um lado enfileiraram-se os poetas, filantropos, humanistas, etc como Carlyle, Kingsley, Blake, etc e do outro os liberais...

Estes sempre repetindo a mesma senha: o abono fazia com que os pobre trabalhassem menos ou se acomodassem, comprometendo o saldo da produção...

E aqueles advertindo que o regime de trabalho era excessivamente cruel e que os pobre tinha ao menos o direito de viver.

No entanto o que estava por trás de toda esta luta titânica travada em torno das leis de assistência poucos podiam adivinhar ou supor.

Coincidentemente fora em 1795 que os anseios de Smith, finalmente haviam sido correspondidos... referi-mo-nos a lei de 1662 que determinava a 'servidão paroquial' e consequentemente prendia os 'vagabundos' as paróquias impedindo-os de circularem livremente pelo reino e de satisfazerem a oferta de emprego oferecido pela indústria apenas emergente noutras regiões. 

Noutras palavras a afirmação da nova ordem social dependia da livre circulação da mão-de-obra.

Speenhamland no entanto, na medida em que assumiu a proteção do trabalhador agrícola e animou-o a permanecer no campo, preso a terra; frustrou mais uma vez os planos dos grandes investidores e teóricos no que concerne a formação de um proletariado 'independente' (a expressão é de Harriet Martineau) ou melhor dizendo de um exército de reserva determinado a trabalhar em troca de qualquer coisa ou de migalhas para não vir a morrer de fome...

Segundo Karl Polanyi Speenhamland representou o último grande esforço do corpo social e o derradeira muralha  posta pela cultura tradicional face as exigências do mercado auto regulável.

Na verdade os críticos do 'programa' em questão estavam muito pouco preocupados com os fazendeiros, o aproveitamento racional da terra, o ritmo da produção, o preço dos alimentos, etc Tudo isto não passavam de desculpas ou de pretextos pois o único resultado esperado era a oferta abundante de mão-de-obra oferecida por um custo reduzido...

Pois na medida em que as crises agrícolas expusessem os rendeiros e suas famílias a fome; não lhes restaria outra alternativa senão passar a cidade e trabalhar para obter o mínimo necessário tendo em vista a conservação da vida. Contavam pois os empresários citadinos com o espectro da fome para convencer os camponeses a abandonar suas terras e aceitar o trabalho 'livre e digno' que lhes era oferecido...

Speenhamland no entanto esconjurava justamente o espectro da fome, permitindo que o camponês sobrevivesse em seu próprio ambiente... ao invés de tornar-se refém ou prisioneiro das grandes cidades.

Diante disto a crítica liberal pôs-se logo a declamar contra os perniciosos efeitos do abono; cunhando por sinal o termo 'paternalismo'... como cunhou mais tarde os termos assistencialismo, populismo, etc Tudo no entanto por simples cálculo ou oportunismo... uma vez que tais programas de redistribuição de renda impede que os patrões possam explorar com máximo proveito as massas desassistidas e desamparadas.

Tendo o que comer e vestir as massas já não se deixam explorar e já não aceitam trabalhar por mísero naco de pão. E a vadiagem até se lhes apresenta como mais digna e honesta face ao que encaram como vil escravidão...  levando-os a 'negociar' com o 'senhor' e a exigir dele um salário melhor.

Evidentemente que todas estas decorrências frustram o meta liberal da maximização dos lucros...

Em tais conjunturas o patrão, o operário, o industrial... julgasse vítima por parte do Estado e passa a encara-lo como seu supremo inimigo e fonte de todos os males.

Por que impede que sua liberdade ou melhor que seu poder econômico suprima a liberdade do 'elemento servil' e abata sua dignidade.

Lamentavelmente Speenhamland foi revogado em 1834 correspondendo aos anelos do liberalismo.

Consequentemente em poucos anos a população agrária vendo-se em vias de morrer de fome abandonou os campos para concentrar-se no entorno dos grandes centros industriais como Manchester e Liverpool. Abrigando-se em miseráveis casebres de madeira e papelão e dando origem as primeiras 'favelas' modernas...

E sabemos que tipo de vida ficou reservada a este povo (de 1835 a 1890 - i é 55 anos!) que sequer possuía um palmo de terra para cultivar uma folhinha de alface... Podeis ler a tenebrosa crônica deste período áureo do liberalismo nas consagradas obras de Charles Dickens...

Por ora não removeremos todo este lixo fétido e pestilencioso produzido pela nova ordem...

Outro não é o significado do programa bolsa família no tempo presente!

Evidentemente que nos grandes centros urbanos como Rio e São Paulo -  nos quais o custo de vida é consideravelmente alto tendo em vista o consumo desenfreado - o significado deste abono de 100,00 é praticamente nulo. Pois em S Paulo o valor de uma cesta básica chega a 345,00 reais... 

No Nordeste, Norte e Centro Oeste no entanto, especialmente no campo; onde o custo de vida é bem menor e o custo com a alimentação de uma família pode chegar a 200, 150 ou mesmo 100 reais, A SITUAÇÃO JÁ É BEM OUTRA PORQUE ESTE PROGRAMA É CAPAZ DE ASSEGURAR A SUBSISTÊNCIA!!! Evitando situações de fome...

Duzentos anos depois esta evidenciado que o abono de Speenhamland proporcionou benefícios bastante concretos aos pobres de Inglaterra, evitando situações de morte, de fome e de extrema miséria e afastando daquele reino uma conflagração nos moldes da Revolução Francesa...

O mesmo podemos dizer a respeito do Bolsa família.

Afinal como sabido é de todos há sucessivas décadas as populações agrícolas deste país tem abandonado os campos em demanda das grandes cidades - fenômeno do êxodo rural - para converter-se em mão de obra assalariada e engrossar cada vez mais nossas periferias e favelas... E não podemos perceber como falta de tantos braços no campo pode ter beneficiado a produção agrícola e reduzido o custo dos gêneros...

A situação se nos apresenta ainda mais grave quando voltamos nossos olhos ao Nordeste assolado pela seca...

O qual durante gerações permaneceu abandonado pelo governo central...

E cujos habitantes foram em grande parte constrangidos a migrar para as grandes cidades do sudeste como Rio e S Paulo, potencializando a economia destes centros, gerando recursos, produzindo riquezas e obtendo em troca apenas e tão somente a miséria neste últimos e tristes tempos coroada pelo preconceito e a discriminação.

Evidentemente que tais contingentes não passaram as cidades e grandes centros econômicos com o intuito de passear ou de fazer turismo... não abandonaram o domínio ancestral por livre iniciativa... não deixaram seus lugares livremente mas quase sempre constrangidos pela ameaça da fome!!! Foi a fome que empurrou as massas sofridas do campo e do nordeste para o habitat urbano; no qual lhes foi reservada a pior parte...

Nem precisamos ser gênios para concluir que a situação acima descrita correspondia perfeitamente aos interesses dos investidores e patrões na medida em que propiciava larga oferta de mão-de-obra a preços bastante convidativos... permitindo inclusive a formação de um vasto exército de reserva e possibilitando, na prática, drástica redução dos proventos auferidos ao trabalhador e consequentemente a tão desejada maximização dos lucros...

O papel exercido pela miséria e pela fome nos campos vinha a calhar... era mister abandonar o campo a suas próprias forças para que sucumbisse miseravelmente e fornecesse mão-de-obra abundante as cidades; pois até bem pouco tempo acreditava-se piamente que o futuro estava nas cidades e no industrialismo e que nada devíamos esperar dos campos...

E nem podemos estranhar que o preço dos gêneros jamais tenha parado de subir na medida em que terras e mais terras foram deixando de ser cultivadas e tornando-se por assim dizer 'devolutas' quando não foram convertidas em pastagens... O empresário no então pode pagar o quanto quiser por sua lagosta ou alcachofra; enquanto ao operário sempre bastara um pedaço de pão, um ovo e algumas batatas... aqui quem se ferra sempre é o operário... pois o salário jamais lhe permitirá saborear alcachofra, lagosta...

Eis porque os meios de comunicação assoalhados pelo capital gritam todos os dias a plenos pulmões contra o bolsa família, esperando por sinal lançar o Sul e o Sudeste contra o resto do país. Porque os empresários ou sentem ou temem sentir a curto e médio prazo os efeitos do programa...

Pois na medida em que a fome não mais empurrar os campesinos e nordestinos para os grandes centros urbanos é certo que a mão-de-obra não deixará de sofrer certo impacto... o teóricos liberais são capazes de compreender exatamente o que estou falando e as massas sofridas do Sul e Sudeste também: sem a concorrência dos migrantes desesperados por uma vaguinha a procura por empregos diminuirá e acarretará por parte do patronato a necessidade de acenar com propostas tanto mais sedutoras em termos de salário...

Tolice seria crer que a lei da oferta e da procura no que diz respeito a ocupações e salários, permanecerá inalterada mesmo que o ritmo das migrações e deslocamentos: campo > cidade; diminua sensivelmente... Pois o exército de reserva diminuirá... e os salários terão de subir. Eis um autêntico suplício para tantos quantos buscam a tão alardeada maximização dos lucros...

Sem o fantasma da fome um número cada vez maior de pessoas lograra manter-se no seu lugar, no seu habitat, no seu canto, aquecendo a economia local; ao invés de vir morrer a minguá nos grandes centros urbanos.

Então percebam só o impacto que programas como o bolsa família produzirão ao largo de várias décadas... trata-se na verdade duma dívida que os estados do Sul e Sudeste - cujos empresários tanto lucraram por obra e graça da seca e das migrações - tem para com os estados do Norte e Nordeste ou que as grandes cidades tem para com o campo... campo sempre menosprezado e desprezado.

Enquanto para os parasitas que controlam o poder econômico significam gastos até certo ponto irrelevantes - caso tenhamos diante dos olhos o lucro exorbitante que sempre obtiveram - para o humilde caboclo refugiado em sua casinha de sapé significa mesa forrada, roupa asseada e saúde cuidada; efeitos que ao invés de minimizarmos como canalhas, deveríamos enaltecer como Cristãos e acima de tudo como membros da grande família humana.

Eis porque não posso nem quero ser massa de manobra destes empresários sem consciência ou dos meios de comunicação por eles financiados. Destarte o que classificam como paternalismo, populismo, assistencialismo, etc classifico como humanismo e encaro como cumprimento da justiça sob seu aspecto social.









quinta-feira, 13 de junho de 2013

Bolsa família e seu significado - uma abordagem histórica IV > O ponto de vista dos comunistas

Antes de iniciar este artigo gostaria de assinalar que nem todos os comunistas são inimigos de programas sociais como o 'Bolsa família' e o 'Prouni' havendo entre eles alguma gente de boa vontade que reconhece o valor de iniciativas como estas na conjuntura atual.

De fato os Comunistas não se consideram socialistas, consideram-se Comunistas e a começar por Lênin encaram as diversas formas socialistas como sintomas diferentes da mesma 'enfermidade infantil'...

Num primeiro momento apontam eles certo temor ou receio, por parte de algumas correntes socialistas - a começar por P Kropotkin - de se recorrer sistematicamente a violência e a sedição; ou certa hesitação em promover efusões sangrentas, extermínios, carniçarias, atentados, etc

Eles não podem nem querem compreender que o recurso a violência também ele deva passar pelo crivo da razão... e não desejam refletir sobre o descontrole de certas situações, os excessos, os abusos, etc que atingindo em cheio a vida humana tornam este método bastante discutível e contraproducente. Já porque em seu curso a força ignora quaisquer distinções entre opressor e oprimido, agressor e vítima, burguês e alienado, patrão e proletário, etc de modo que muitas vezes acaba a aniquilando o inocente juntamente com o culpado e exterminando ou aumentando os sofrimentos daqueles que propôs a emancipar...

Pois não podemos ignorar que a maior parte daqueles que estão inseridos neste sistema de morte é constituída por alienados, isto é por pessoas que são manipuladas pelo poder político, pela imprensa, pelo fanatismo religioso, etc Numa só palavra: por vítimas que sequer tem consciência a respeito de sua condição... E não vemos a que título seja justo imolar ou exterminar tal categoria de pessoas juntamente com o elemento opressor.

Num segundo momento os Comunistas sustentam a doutrina da restrição das liberdades humanas as quais acrescentam o epíteto de 'burguesas' e dos demais direitos inerentes a pessoa; revindicando a construção duma ordem totalitária e opressora a que denominam 'ditadura do proletariado'. Por ditadura do proletariado - expressão cunhada por A Blanqui - devemos compreender a ditadura do Partido Comunista na medida em que se apresenta como órgão autorizado do proletariado e depositário de seus anseios e expectativas.

Assim reproduz em si o Comunismo os velhos e decantados erros apresentados por seu antípoda: despotismo, materialismo, economicismo, tecnicismo, monoculturalismo ou tentativa de padronizar os seres humanos, etc

Personalismo/humanismo e anarquismo apenas tem o mérito de demolir tais ídolos e de dar cabo de semelhantes fetiches transmitidos ao comunismo pela mística positivista, decantado subproduto do éthos liberal.

Não devemos estranhar pois de que em algumas situações liberais e comunistas; em que pese a enorme distância que os separa, estejam de acordo e encontrem-se do mesmo lado.

Fortemente influenciado pelo positivismo do tempo Marx acreditava que o Comunismo só seria possível e viável quando o ideário liberal atingisse ulteriores estádios de desenvolvimento, de modo que a passagem para o comunismo se faz por meio do liberalismo e o liberalismo fica sendo uma etapa ou degrau rumo ao comunismo.

Não se trata aqui - e nem sequer podemos pensar nisto - de conservar ou resgatar qualquer elemento humanista ou solidário que tenha precedido o advento do liberalismo e menos ainda de 'retomar' qualquer coisa que tenha sido perdida no meio do caminho. Trata-se antes de destruir o liberalismo e este só pode ser destruído caso venha a existir...

Da doutrina marxista salta a vista uma necessidade: a de que o liberalismo se expanda livremente, cresça, desenvolva-se e atinja níveis cada vez mais complexo até entrar em crise e ceder espaço ao comunismo... é como se o sistema liberal fosse semelhante a um organismo vivo devendo por consequência: nascer, viver, crescer, desenvolver-se, declinar (a crise) e morrer. De modo que seu nascimento ou introdução nas diversas culturas seria um 'mal necessário' ou uma etapa a ser percorrida... tampouco poderíamos imaginar - como em sua cegueira imaginam os socialistas - cortar passo e impedir seu desenvolvimento por meio de sucessivas reformas...

Cada reforma empreendida pelos socialistas e humanistas é encarada pelo comunistas como um prolongamento da vida e da subsequente agonia do liberalismo. Sempre que por meio da reforma agrária, das leis trabalhistas, dos programas sociais, etc suavizamos ou amenizamos as mazelas do sistema estamos emprestando-lhe novo fôlego de vida e dilatando seu reinado...

Eis porque nas mais variadas situações os comunistas fraternizam-se com os liberais em seus ataques e suas críticas ao ideário reformista do socialismo.

Para os comunistas o socialismo por representar um entrave a implantação e desenvolvimento do programa liberal posterga do mesmo modo e maneira a aparição e triunfo do comunismo.

De fato a maior parte dos comunistas encarna a ideia maquiavélica e desumana do 'Quanto pior melhor'...

Pois acreditam que rigorosamente aplicado o ideário liberal redundará em fracasso e que estre fracasso corresponderá a ascensão e vitória do comunismo. Fique pois o estado entregue a sanha feroz dos burgueses té que desabe e seja tomado de assalto pelo proletariado...

Aqui conter o liberalismo é sempre uma desgraça e enjaula-lo como fez Keynes uma tragédia.

Esperam os comunistas que o 'furor' liberal açule de tal modo o bom povo que este mesmo se veja obrigado a lutar ou a apoiar a luta dos comunistas. Segundo esta ótica é necessário que a proletarização siga seu curso, que a produção de miséria aumente, que a situação de injustiça se agrave, que a desigualdade social se aprofunde; enfim que o bom povo sofra como gado levado ao matadouro, té que a situação, atingindo niveis jamais vistos ou imaginados, torne-se insuportável. Constrangendo o proletariado a exercer violência e tomar o poder...

Tal e qual a matemática dos liberais, esta também parece ser exata...

Porque os comunistas tal e qual os liberais, sendo materialistas, abstraem e desconsideram o elemento humano.

Afinal se o povo será despertado de seu letargo por meio dos sofrimentos e dores, estamos quase diante daquela lógica de ferro que leva o Hindu - compenetrado a respeito das derradeiras exigências e fins da Sansara - o cuspir no rosto do cego e do aleijado que lhe pede esmola... pois qualquer tipo de suavização: mesmo a caridade exercida pelos religiosos, serve de obstaculo ao fim proposto.

Destarte, para que o fim seja concretizado e o povo, oprimido até os limites da suportabilidade deveriam os cidadãos conscientes e apóstolos da 'nova' ordem comunista conduzirem-se exatamente como o super homem de Friedrich Nietzsche, como o homem superior de Herbert Spencer, como o individuo impassível de Stirner... ou seja adotar, ao menos por estratégia ou conveniência, o ideário dos individualistas, darwinistas sociais e anacaps; persuadidos de que assim procedendo as coisas seguirão seu curso livremente, até que o povo se canse de tanto sofrer e ponha termo em semelhante estado de coisas abraçando a causa do Comunismo...

Então o caminho para o comunismo sera o calvário do liberalismo extremo e a via da dor e do sofrimento até a suprema angústia e desesperação... aqui a compaixão esboçada por socialistas dos mais diversos matizes será sempre contraproducente. Faz-se mister que a 'evolução' siga seu próprio curso... guarde-mo-nos pois de intervir e de mitigar este infernal estado de coisas.

De certo modo esta visão cruel segundo a qual os sofrimentos conduzirão a sociedade a transmutação e a glória não deixa, no fundo no fundo, de aproximar-se do darwinismo social... Um e outro sistema encarecem a luta e o conflito como fatores evolutivos e associam a paz e a concórdia a paralisia...

Implica esta visão extremista admitir que tantos quantos lutaram e se empenharam - de 1880 a 1940 - para afastar a Inglaterra da sereia liberal e por edificar o modelo 'trabalhista' lobrigaram em vão ou melhor trabalharam em favor do liberalismo, prolongando sua existência... e implica sobretudo em permanecer completamente indiferente - e aqui esta o cerne da questão - face a morte prematura de MILHÕES E MILHÕES DE SERES HUMANOS IMOLADOS AO DEUS MERCADO...

Implica o etapismo dos marxistas a aceitação da morte, da fome, da miséria, da opressão, da indignidade, etc como males necessários ou mesmo como eventos de natureza positiva na medida em que encaminham a sociedade para seu derradeiro e último fim: o Comunismo...

Ora o tão execrado socialismo reformista tem sido justamente isto: uma obra de compaixão face aos sofrimentos alheios e o firme desejo de minora-los sem consideração de etapas, estádios ou fases a serem necessariamente percorridas pela sociedade. Já sabemos pois porque enquanto comunistas e maniqueistas (adversários radicais do estado) cruzam os braços e assistem do alto da arquibancada, como platéia, o rosário de sofrimentos, dores e lágrimas experimentado pelo bom povo; os odiados socialistas descem a arena da política burguesa, infiltram-se nela, abalam suas estruturas e implementam reformas que correspondam aos anseios concretos das massas oprimidas. Comunistas e maniqueus cruzam os braços e entregam-se a discursos verborrágicos enquanto os socialistas descem ao cenário do parlamento e agem tendo em vista o bem comum e a felicidade geral da nação.

Eis porque os comunistas pouco se importam diante da manobra liberal que tem em vista a aniquilação e completa supressão dos direitos trabalhistas. Porque na verdade esperam que semelhante política exaspere e desperte as massas trabalhadoras até então acomodadas atraindo-as a luta.

Isto também explica e nos ajuda a compreender porque parte deles faz coro com os liberais a ponto de encarar a totalidade dos programas sociais implementados pelo centro ou pela esquerda como formas de paternalismo, assistencialismo, populismo, etc a serem erradicadas.

Assim sendo é natural que mostrem pouco ou nenhum entusiasmo pelo 'bolsa família', o 'pronacampo', o 'prouni'... pois para eles 'Quanto pior melhor'...




quarta-feira, 12 de junho de 2013

Bolsa família e seu significado - uma abordagem histórica III > Perspectivas socialistas




Optamos aqui por empregar o plural 'socialismos' ao invés do singular 'socialismo' porque de fato não há uma doutrina socialista unificada mas diversos modelos de socialismos, os quais para alguns vão do keynesianisno e do bem estar social e social democracia ao Comunismo ou marxismo 'ortodoxo'; passando por uma enorme gama de escolas e correntes: comunitarismo, cooperativismo, coletivismo, fraternalismo, humanismo cristão, personalismo, etc, etc, etc

Erra portanto e feio aquele que imagina socialismo como comunismo.

De fato o comunismo é um tipo de socialismo, um tipo totalitário e portanto, para a maior parte de nós socialistas equivocado... o socialismo no entanto, ou melhor dizendo os socialismos não se identificam com o comunismo.

Por socialismo ou seja o elemento unificador devemos compreender a primazia do corpo social sobre a vontade individual em termos de política e economia. Todos os socialistas sobrepõe as necessidades do grupo a iniciativa do indivíduo visando implementar certo tipo de igualdade ou, ao menos, reduzir ao máximo a desigualdade vigente.

Quanto as variedades de socialismos, que como vimos são muitas, dizem respeito, em geral, ao método ou a maneira por meio da qual a igualdade de condições e oportunidades será implementada.

Pois enquanto uns apostam na educação, na conscientização, na mobilização até certo ponto pacífica e especialmente na 'resistência civil' de Thoureau ; outros  apostam na subversão armada, no golpe de estado, no putsch, na violência... e enquanto uns apostam na ampliação das liberdades e na construção dum modelo popular ou policratico outros apregoam a abolição das liberdades e a construção dum modelo totalitário: a ditadura proletária...

Curiosamente o apelo a violência surge não com Marx e Engels mas com M Bakunin e Nechaiev, cuja ideologia, por mediação de G Sorel, chegou a W Lênin passando a fazer parte do ideário comunista. Desde então aqueles que permaneceram fiéis ao ideal proposto por Engels - a conquista do poder por meio de eleições e a desconstrução interna do modelo burguês (posicionamento mantido por Kautsky) - passaram a ser classificados como sociais democratas e renegados, quando na verdade o renegado, ou seja, aquele que rompeu com as diretrizes apontadas por Marx e Engels foi Lênin.

Tanto os comunistas quanto os bakuninistas em geral permanecem atidos a um tipo de golpismo espontaneísta que Marx condenaria implacavelmente como 'jacobinismo'.]

Via de regra as correntes: humanistas, personalistas, cristãs, etc só excepcionalmente admitem qualquer recurso a força, isto é, apenas face a situações de extrema injustiça ou coerção social. Pois receiam que a força desencadeada pela violência seja desproporcional, tornando-se incontrolável e provocando mais prejuízos que benefícios. Enquanto para os comunistas e bakuninistas o apelo sistemático a violência funciona como uma espécie de receita culinária, elixir universal ou panacéia.

Quanto a questão da forma os comunistas apostam no papel centralizador e burocrático do Estado ou do partido, modelo a partir do qual Milovan Djilas pode alcunhar o termo 'capitalismo de estado'. Mesmo porque o comunismo é herdeiro e continuador de diversos vícios e defeitos legados pelo liberalismo como o materialismo, o economicismo, o tecnicismo, etc esperando por sinal não só concorrer como superar o capitalismo no que diz respeito a produção... Eis porque o renegado Lênin dissolveu os soviets e alijou os produtores do controle das fábricas, segundo foi descrito por Alexandra Kollontai.

O autêntico modelo socialista no entanto revindica que as fábricas e indústrias passem ao controle direto dos produtores e que a produção e distribuição de bens seja determinada por eles e pela comunidade do entorno tendo em vista as necessidades mais prementes da população e não as necessidades artificiais do mercado externo. Quanto a forma ou meio porque atingiremos este fim os socialistas não acreditam que haja um único e mesmo caminho mais diversas possibilidades: reforma agrária e distribuição de terras não ocupadas (Henry George), ampliação do regime atinente a pequena propriedade pessoal (Hilaire Belloc), supressão do direito de herança (Nordau), implementação de cooperativas de trabalho, etc

As vertentes mais próximas do liberalismo - sistemas de fronteira - como o keynesianismo e o bem estar social apostam na solidariedade compulsória, na promoção humana por meio de programas sociais, numa ampla rede de proteção ao trabalhador, etc de modo que mantendo a 'forma' ou padrão externo do capitalismo - a posse individual dos meios de produção - julgam poder alterar-lhe a matéria ou conter-lhe o éthos. Estaríamos aqui diante de um liberalismo controlado ou como se diz vulgarmente do leão enjaulado... Como todavia a expressão 'liberalismo limitado ou controlado' comporta contradição porque supõe a ação coercitiva de natureza externa foi o keynesianismo classificado por alguns como keynesianismo, isto é, como uma via distinta das outras três. Teríamos assim quatro vias: liberalismo, keynesianismo ou bem estar, socialismo e comunismo. E a social democracia seria uma espécie de ponte entre o keynesianismo e o socialismo propriamente dito ou mesmo uma quinta via...

Nós no entanto, por uma questão de afinidade classificamos keynesianismo e social democracia como formas atenuadas de socialismo, alias o socialismo comporta certa flexibilidade que o liberalismo não pode comportar sem deixar de ser o que é. Isto porque O SOCIALISMO É UM FIM E NÃO UM MEIO, enquanto que o liberalismo implica meio e fim: a livre iniciativa a serviço do lucro...

E não havendo livre iniciativa ou auto regulação interna mas controle externo de natureza social, adeus liberalismo... 

Segundo o ideal socialista a comunidade deve estruturar-se de tal modo que a tantos quantos cheguem a este mundo sejam oferecidas as mesmas chances ou oportunidades, chances e oportunidades que sendo aproveitadas ou não por cada pessoa segundo seus méritos darão origem a diferenças que serão legítimas sob quaisquer pretextos (Bakunin). Aqui outra diferença entre comunismo e socialismo, pois enquanto o comunismo deseja impor uma igualdade superficial, forçada e ilegítima 'a posteriori' ou seja uma igualdade metafísica de cárater absoluto; o socialismo sustenta a formação duma igualdade relativa 'a priori' ou seja por meio de oportunidades sociais de cárater universal a serem aproveitadas por cada um e a partir das quais surgirão certas diferenças por assim dizer 'justas'. Então a perspectivas da igualdade para socialistas e comunistas é bem distinta.

Outra distinção é que embora a quase que totalidade dos marxistas 'ortodoxos' e parte dos anarquistas clamem apenas e tão somente contra a propriedade privada ou individual dos meios de produção; na prática  acabam ignorando a distinção necessária (e admitida pelos humanistas, personalistas, etc,) existente entre propriedade dos meios de produção e propriedade pessoal; abarcando uma e outra sob o falacioso termo de 'propriedade privada'... Pois não podemos deixar de concordar com Hobbes e mesmo com Locke e os pré liberais, que a propriedade pessoal enquanto fruto do trabalho honesto é por assim dizer sagrada e intocável na medida em que há algo nela posto pelo trabalhador. O próprio Marx não poderia deixar de concordar conosco na medida em que endossa a afirmação de Ricardo segundo a qual o valor é produzido pelo trabalho... de modo que um bem móvel ou imovel trabalhado por alguém deste alguém recebe seu valor. Henry George parte destas ilações para concluir que o único título legítimo de posse é o aproveitamento ou uso da terra pelo cidadão e sua família. 

Parte do socialismo incorporou a si esta constatação racional feita pelos teóricos pré liberais, de modo que a crítica ou contestação da posse incide apenas - como ressaltou Karl Marx - sobre a propriedade dos meios de produção e suas decorrências todas discutíveis: alienação da força física ou intelectual em troca do salário, exército ou mercado de reserva, retenção desproporcional da mais valia, concentração imoderada de riquezas, gênese de monopólios e oligopólios, produção de miséria, aumento das situações de violência, etc

Mesmo quando um tipo de socialismo incipiente estabelece num contexto burguês o mecanismo da solidariedade compulsória tendo em vista o bem comum dos desempregados, inaptos, incapazes, etc temos diante de nós um benefício real. Pois que sucederia com tal categoria de pessoas num contexto de livre concorrência ilimitada em que todos os serviços devessem ser pagos??? Ficariam - respondem os teóricos do liberalismo -  a mercê da caridade ou da compaixão alheia.

Não ocorreu a nosso contraditor a noção elementar de que a ninguém assiste o direito de revindicar ou exigir o serviço da caridade ou da compaixão pelo simples fato de que a compaixão e a caridade são atos morais e por assim dizer livres. Importa dizer que ninguém pode ser constrangido a agir caridosa ou compassivamente... Destarte seria de se esperar que a caridade e a compaixão jamais suprissem a demanda social e que parte dos desempregados, ineptos e incapazes VIESSE A SUCUMBIR DE FOME, SEDE, FRIO, ENFERMIDADE, ETC sem que no mundo ANACAP ou mesmo liberal houvesse qualquer estância a que pudessem recorrer, já porque o estado foi desarticulado ou se faz omisso... CONCLUSÃO: ESTARÍAMOS DIANTE DUMA CULTURA DE MORTE AINDA MAIS AMPLA!!!

Naturalmente que semelhante estado de coisas chocaria profundamente os adeptos da solidariedade e da empatia; mas não os partidários do individualismo crasso, os quais dariam de ombros e diriam: antes ele do que eu... pois pimenta no olho dos outros para muitos equivale a colírio.

Sabendo estar diante dum sistema excludente o mínimo que o socialismo pode fazer é aparar as arestas ou seja revindicar algum padrão mínimo de proteção social para os excluídos e chances e oportunidades cada vez maiores para os mais humildes... o que só é exequível através do político, isto é, por meio de um Estado cada vez mais popular, democrático, ativo e solidário.

Eis porque a maior parte dos socialistas tende a justificar e apoiar programas sociais como o 'bolsa família' e o 'Prouni'.

Bolsa família e seu significado - uma abordagem histórica II > O liberalismo econômico




LIBERALISMO ECONÔMICO



Grosso modo o posicionamento dos defensores e críticos do programa bolsa família reflete dois tipos de 'visão de mundo' radicalmente distintos ou melhor francamente opostos: a liberal economicista e a socialista humanista.

Segundo o primeiro modelo em questão as coisas funcionariam da seguinte maneira:

O setor econômico constituiria um compartimento fechado face aos demais setores da vida e da organização social gozando de total e absoluta autonomia. Destarte seguiria seu próprio curso, segundo as exigências e leis do mercado, regulando-se internamente como uma espécie de relógio... Na medida em que todas a leis e garantias que o Estado autorgou aos trabalhadores fossem revogadas e ao empresário/patrão fosse concedida plena liberdade assistiríamos ao alvorecer duma nova Era sem precedentes para a humanidade.

Eliminados os gastos excessivos provocados pelas leis que protegem o trabalhador, os lucros obtidos pelo empresário seriam maximizados de modo que investindo os excedentes convertidos em 'capital'  produziria novas frentes de trabalho garantindo a oferta de emprego para todos... o liberalismo só avança até aqui: geração de emprego para todos...

Mas é irredutível quando se trata das condições em que o emprego será oferecido... e devemos lembrar que aos escravos da antiguidade e do Brasil colônia também era garantida a oferta de empregos...

O liberalismo nada pode garantir ao povo em termos de condições pelo simples fato de opor-se a qualquer tipo de regulação externa, social ou política da qual dimanem leis e garantias. A livre iniciativa é e sempre foi a base de seu credo...

Na medida em que todos estiverem empregados supomos - e os liberais exploram esta suposição ao máximo - que possam arcar com os custos pessoais (habitacionais, terapeúticos, educativos, etc). Disto resulta que o estado não precisara mais investir ou sequer atuar em tais áreas (humanas ou sociais) e que elas seriam franqueadas a livre iniciativa aumentando ainda mais as frentes de trabalho e o consequente progresso social... e se o estado não precisa investir em tais áreas os impostos acabam sendo reduzidos ou até mesmo eliminados - donde o liberalismo acena com a sedutora proposta da redução da máquina tributária... a própria figura do estado tenderia a desaparecer ampliando a esfera de nossas liberdades pessoais.

Com tais promessas acena o liberalismo, embora promessas também possuam o fascismo e o comunismo...

Aqui tudo parece belo e o panorama idílico porque apenas se supõe ou se deixa subentender nas entrelinhas que o trabalhador ou operário sempre obterá o necessário para manter-se com certa dignidade e conforto.

O fundamento no entanto é metafísico e posto em seu lugar e bem compreendido faz o sistema concebido com exatidão matemática desabar como um castelo de cartas. E porque???

Justamente porque entra aqui o arbitro humano ou seja a livre iniciativa ou melhor a livre vontade do patrão que determina o valor e as condições do trabalho...

Caso levemos tal fundamento em consideração saberemos perfeitamente o que o liberalismo acenou e o que realizou de fato.

Implica o liberalismo noção otimista de individualismo, algo como: o indivíduo é bom ou simpático por natureza; em suma o oposto do 'pecado ancestral' dos cristãos e parte assumidos pelos comunistas e totalitários em geral. Os totalitários sendo pessimistas quanto a natureza humana teorizam o absolutismo ou estatolatria... os liberais economicistas sendo otimistas sustentam que o indivíduo deve fruir da liberdade em termos absolutos ou quase que ilimitados. Para o totalitário o mal supremo é a pessoa ou melhor a liberdade, já para o liberal economicista o mal supremo corresponde ao grupo social ou ao estado sempre opressor e repressor.

Posto está que ambas as visões são artificiais, idealistas, ingênuas, forçadas... e enquanto tais autênticos credos. Historicamente falando o homem não é nem mocinho nem bandido mas um ser em construção, capaz de em certas circunstâncias agir bem e noutras mal.

Foi justamente a possibilidade de um ou de vários indivíduos procederem de modo inadequado e prejudicial que resultou na ideia de um controle a ser exercido pelo corpo social face a liberdade individual, estabelecendo seus límites (aqui a velha ideia: a liberdade de um termina onde começa a do outro).

Evidentemente que a própria ideia de controle social veio a sofrer abuso na medida em que assumiu formas diversas, até o Estado a ser assaltado por indivíduos e grupos que fizeram reverte-lo em proveito próprio em detrimento do povo ou do corpo social, tal e gênese do estado burguês ou liberal.

Então não podemos encarar ingenuamente o estado, como deus ou demônio, mas como recurso que em certas circunstâncias ou conjunturas dou favorável e noutras desfavorável a promoção humana e a concretização de um ideal ético.

Tanto a pessoa como o estado assumiram condições diferenciadas e múltiplas, e complexas no decorrer do processo histórico e estas condições não podem ser apreciadas a partir da simplicidade dum esquema binário em torno de otimismo ou negativismo absolutos. A visão objetiva ou realista pautada na análise histórica deve repudiar tanto a visão maniqueísta de estado quanto a visão utópica do 'indivíduo sempre bom' e V Versa.

Disto resulta que a atribuição duma liberdade absoluta aos patrões nos termos propostos pelo liberalismo poderá resultar em desmando, opressão, abuso de poder, exploração, etc Crueldade, crimes, etc e não apenas e tão somente das benesses e vantagens acenadas pelo sistema.

Negar esta possibilidade ao ser livre será sempre mistificar...

Foi diante deste beco sem saída que o liberalismo teve de assumir seu carater materialista e forjar uma lei que determinasse o salário pago ao operário em termos puramente mecanicistas.

E saiu David Ricardo, teórico clássico com a lei de ferro dos salários.

Segundo este expositor o salário jamais ficaria ao sabor subjetivo do livre árbitro dos patrões, seriam antes regulado pela dinâmica interna do mercado estabilizando-se A NÍVEL DE UMA SUBSISTÊNCIA MÍNIMA.

Observem então que o liberalismo clássico não acena com o paraíso aos operários, porque se o salário recebido por eles jamais ficará abaixo de determinada parcela ou quantia devemos compreender que esta parcela ou quantia diz respeito a um nível de subsistência mínima.

Evidentemente que nem todos são capazes de compreender o significado de tão pomposa expressão, então devemos retirar o véu da Ísis liberal e revelar o segredo da esfinge ricardiana> por subsistência mínima devemos compreender a seguinte promessa: o salário recebido pelo proletário sempre haverá se ser suficiente para que ele sobreviva...

E com o SOBREVIVER mais uma vez a crença ou credo liberal recaí nas malhas do demônio subjetivista - logo ele que revindica uma exatidão matemática para seus pressupostos! - pois o operário compreenderá o termo sobreviver de um modo e o patrão de outro...

O patrão inglês do século XIX compreenderá que o operário sobrevive mesmo quando recebe apenas para forrar o estomago com babatas, pão preto e 'cachaça', quando trabalha até dezesseis horas por dia, quando dorme por apenas quatro ou cinco horas, quando habita um alcouce infecto de metro quadrado, quando trabalha em condições insalubres, etc Tal o significado de 'sobreviver' para os burgueses ou patrões e como assinalou Nordau trata-se numa morte contínua já porque, a longo prazo, reduz drasticamente a longevidade das massas a ela submetidas... Então aqui sobreviver é estar sujeito a uma morte lenta e dolorosa...

Naturalmente que para o trabalhador sobreviver implica 'salário família', mesa farta, habitação digna, roupas asseadas, acesso a medicina e a educação, etc O que o liberalismo com sua lei de ferro dos salários não leva em consideração ou conta. Então, se em tais contingências - produzidas pelo liberalismo - o estado não interfere positivamente investindo na saúde, educação e economia; este operário esmagado pelo exército de reserva e cuja derradeira liberdade é escolher aquele que o explorará; perecerá fatalmente quanto ao corpo e ao espírito... achacado pela enfermidade e pela ignorância crassa.

Então perceba que o discurso liberal é totalmente falacioso já por exigir de nós um ato de fé na bondade natural do indivíduo, já por deixar ao alvedrio dos patrões a conceituação do termo 'sobrevivência' e os insumos mínimos relacionados a ela... e introduzido o fator volitivo ou subjetivo a auto regulação do mecanismo torna-se problemática.

Por outro lado não é menos certo e evidente que o liberalismo economicista, mais do que o macro estado talvez; colaborou para reduzir a esfera das demais liberdades: seja a política ou a pessoal. A emergência da economia burguesa e a construção do sistema representativo (Locke) Arendt vincula a redução do espaço político tão caro aos antigos gregos e a eclipse da cidadania. Por outro lado situações de violência engendradas pela miséria tem servido para atemorizar os cidadãos e dar suporte a um discurso segundo as liberdades pessoais devem devem ser reduzidas com o intuito de garantir a paz e a segurança, e cada vez mais a liberdade é negociada e permutada tendo em vista a segurança... aplainando os caminhos do totalitarismo e da estatolatria.

Na base de tudo isto encontra-se a extrema miséria produzida pela exploração da mão de obra pelo patronado. Destarte enquanto as grandes fortunas acumulam-se a um lado de geração em geração, a miséria     , a pobreza, a ignorância, a alienação, a violência, o fanatismo religioso, etc acumulam-se a outro (Henry George) acenando com a desagregação do corpo social...

Em tais conjunturas o liberalismo, que não poupa críticas a investimentos e gastos no campo social da promoção humana, mostra-se incapaz de tecer a mais leve crítica aos gastos relacionados com policiamento e exército... pois depende de tais mecanismos ou aparelhos de repressão para conter os trabalhadores e massas descontentes no respeito. Haja visto que em cada greve ou mobilização o estado fantasma interfere poderosa e ativamente a favor dos empresários e patrões...

Não passa pois de lorota a afirmação de que o fascismo ou o comunismo deram inicio a opressão. Pois a única liberdade de que os proletários desfrutavam sob o regime liberal ou semi liberal era, como já foi dito, a da e escolher o patrão porque ser explorado ou morrer de fome; o que implica liberdade alguma ou seja a escravidão economicista. Os fascistas e comunistas apenas mostraram-se mais honestos e, possivelmente agraram a opressão vigente há séculos e apenas dissimulada hipocritamente pelos papéis, digo pelas leis e direitos que não podiam ser exercidos.

Em verdade o estado burguês ou liberal estabeleceu um padrão de intervenção (policial e militar) ao contrário e foi dissimuladamente totalitário na medida em que conteve pela força as massas trabalhadoras por geração.

Então já sabemos porque do ponto de vista dos liberais programas como 'bolsa família' e 'Prouni' ou mesmo programas destinados a proteger espécies em extinção ou a tratar crianças africanas vitimadas pelo câncer ou o HIV, são sempre descritos como 'gastos inúteis' e irremissivelmente condenados. Porque o segredo do progresso é investir no mercado ou na econômica, produzindo empregos, e não diretamente na pessoa humana, tornando-as 'dependentes'... Mas eu nem sei como as criancinhas aidéticas e os deficientes crônicos poderiam tornar-se independentes... Atrelados 16 horas por dia a uma máquina qualquer talvez???







Bolsa família e seu significado - uma abordagem histórica I






O primeiro dado que nos vem a mente quando pensamos no programa 'Bolsa família' é a grande variedade de opiniões tanto favoráveis quanto contrárias. Outro dado que nos chama a atenção é o envolvimento do elemento passional, das necessidades, dos interesses, e assim por diante...

Elemento que serve para intensificar ainda mais a polêmica. 

Há aqueles que são radicalmente a favor a ponto de eximirem-se de toda crítica. 

Há aqueles que são radicalmente contra a ponto de desconsiderarem por completo a argumentação oposta.

Pois nem a necessidade nem os interesses são compatíveis com análise puramente racional dos fenômenos.

Necessidade e interesse excluem por completo a ponderação serena das evidências...

Mas há também aqueles que mesmo encarando o programa com simpatia buscam assinalar seus pontos fracos tendo em vista sua eliminação e consequente aprimoramento do programa e intensificação dos resultados.

Tal nosso ponto de vista.

O programa em si é bom, sua aplicação no entanto apresenta falhas relativamente graves que precisariam ser sanadas.

Principiemos pois pela parte negativa ressaltando aquilo que cremos serem os defeitos ou vícios do programa.

  • Sem querer ser malthusiano ou neo malthusiano é certo que toda dinâmica do debate que envolve a preservação do meio ambiente, sustentabilidade, industrialização, consumo, propriedade fundiária, etc  esta relacionada bastante de perto com a questão da densidade populacional, do planejamento e do controle da natalidade humana.
Por mais que queiramos ser otimistas face ao progresso tecnológico relacionado com o cultivo da terra e com a produção de alimentos é absolutamente certo que mais cedo ou mais tarde teremos de abordar o problema do crescimento populacional humano tendo em vista o carater estacionário do espaço por nós ocupado.

E a existência de outras tantas formas de vida que dependem de habitat específico para sobreviverem. Formas de vida as quais esta atrelada nossa própria sobrevivência e bem estar.

Não podemos nos multiplicar espontânea e infinitamente no sistema fechado e finito em que vivemos, pois esta multiplicação não planejada, irracional e descontrolada acarretaria o suicídio da espécie humana. Apenas artificialmente protelado pela técnica, a ponto de ludibriar-nos e de conduzir-nos a um beco sem saída ou a uma cilada.

Então, como seres racionais temos de examinar o problema e de buscar soluções agora...

Do ponto de vista meramente político ou pragmático a própria ONU tem se empenhado - em que pesem os entraves de natureza econômica, cultural e religiosa - em estimular todo tipo de programas que visem a redução da natalidade humana e o controle populacional. Propondo em diversas ocasiões que as políticas sociais relacionadas a promoção humana contemplem este desígnio.

Aqui no Brasil todavia parece que temos certa dificuldade em compreender o que se passa no mundo, voltamos nossos pensamentos para o passado remoto e fecha-mo-nos numa redoma impermeável a todo e qualquer tipo de reflexão a respeito de tão grave assunto.

Pois como nos tempos da colônia e do império imaginamos que somos poucos e que nossas florestas e ecossistemas não passam de 'terras devolutas' ou inúteis destinadas a seres convertidas em pastos, campos cultiváveis ou mesmo parques industriais e grandes centros urbanos até que não reste uma capivara ou araucária sequer em todo território nacional... Então terremos atingido o tão cobiçado progresso, quando a natureza for completamente destruída porque aqui floresta ainda é mato e animal 'bicho'...

Assim acreditamos poder crescer populacionalmente em detrimento da natureza e triplicar, quintuplicar ou mesmo decuplicar nosso coeficiente populacional...

E mantemos os embolorados e anacrônicos incentivos auferidos tendo em vista este sinistro fim; como o de conceder primazia em concursos públicos aqueles que tem maior número de filhos quando deveríamos premiar aqueles que tem o menor número deles... e vamos na contramão da humanidade...

Eis porque não posso concordar com a forma ou o modo como a 'Bolsa família' é concedida a seus contemplados, isto é, desconsiderando por completo as recomendações da ONU e organizações congêneres relacionadas com a questão da densidade populacional e planejamento familiar.

Julgo portanto que a Bolsa deveria considerar um número máximo ou digamos 'teto' de filhos - digamos até dois ou três - e comportar uma redução parcial a partir do segundo filho. O benefício seria reduzido pela metade no caso de um segundo filho e a um terço ou simplesmente denegado no caso de um terceiro filho. Pensamos que esta limitação é fundamental e também temos de considerar - em que pese o Prouni - o perigo de que a longo prazo tal política, irresponsável, venha de algum modo alimentar um possível mercado de reserva.

  • O segundo ponto negativo a meu ver é a simples exigência de que a criança em questão apenas frequente a escola ou responda chamada; sem levar em consideração, a título de manutenção da bolsa, o rendimento escolar do educando ou sua progressão a nível de aprendizado.
Aqui como acentuado número de educadores tem apontado o programa pode assumir um cárater contraproducente e até nefasto na dinâmica do processo educativo. Pois não sendo estimulados ou cobrados pelos país tais alunos estando presentes apenas 'de corpo', acomodando-e e até mesmo provocando situações de tumulto que implicam obstáculo ao aprendizado da turma. Tais situações de desinteresse por parte dos país e alunos poderiam ser corrigidas facilmente caso o programa em questão levasse em consideração o rendimento escolar e penalizasse de algum modo os país que se mostrassem relapsos ou desleixados quanto a progresso de seus rebentos no âmbito do saber.

Penso que deste modo a 'bolsa família' se converteria numa poderosa arma a serviço da educação.


Estas são as principais críticas que faço ao programa e creio serem bastante construtivas.

No segunda parte deste artigo analisaremos o significado histórico do programa bolsa família no contexto da economia liberal de modo a que possamos compreender muito bem os diversos interesses que estão em jogo.


Eu exonerei do meu cargo de professor de geografia




Algumas pessoas ficaram surpresas com a minha declaração de exoneração do meu cargo de professor de geografia do estado de São Paulo. Eu exonerei por vários motivos: baixa remuneração, muita cobrança, pouco ou nenhum reconhecimento, alunos que não querem aprender, isto é, em sua maioria, alunos mal-educados e uma categoria totalmente desunida que é a categoria dos professores.

Passei no último concurso para professores do estado de São Paulo, fui  convocado fiz o curso da EFAP e uma segunda prova, assumi meu cargo como professor, trabalhando por 4 meses, numa carga de 24 aulas, fora as aulas que eu tinha que preparar em casa, preparar provas e correção das provas. Uma verdadeira escravidão, só quem está em sala de aula sabe. São salas superlotadas, os professores tem que fazer chamada quase berrando porque os alunos conversam ao mesmo tempo em que os professores, tem que chamar a atenção dos alunos, enfim se aborrece muito e se aborrece de tal forma que chega em sua residência esgotado.

Como o senhor desgovernador do estado de São Paulo não deu aumento e nem melhorou as condições de trabalho, e, como eu não quero destruir minha saúde física, nem minha sanidade mental, achei por bem me exonerar, até porque na escola não estou fazendo um papel de professor mas de palhaço, de babá, de carcereiro, de psicólogo dentre outras funções que não fazem parte dos deveres da docência.

Não sou professor para aturar má educação de alunos ou para aturar comportamentos inadequados, não. Sou professor para ensinar o que aprendi, sim, transmitir conhecimentos, e, desculpem-me os pedabobos que não gostam desse discurso, mas é muito fácil falar quando se é um teórico, quando se faz palestras, se escreve livros sem nunca ter pisado numa sala de aula. Deixo claro que aqui não estou falando dos grandes teóricos como Piaget, Vigotsky, Wallon, Freinet entre outros, estou falando dessa gente que ganha dinheiro às custas da educação, ensinando os professores serem professores sem que estes escritores tenham sido professores ou se o foram não mais o são.

Minha saída do estado tem vários motivos e o principal deles é dizer um NÃO contra os desmandos do Geraldo Alckimin e de seu partido demagogo, fascista e mentiroso, sim mentiroso pois nas propagandas diz que o PSDB investe na educação, é isso.