sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

As consequências do ateísmo



Julien Offray de la Mettrie é um exemplo clássico de como o postulado de Dostoiévsky é verdadeiro: "Se Deus não existe tudo é permitido". Por coerência os ateus deveriam deduzir a sequência lógica da negação da existência de deus. Onde não há deus, há liberdade; Onde há deus, há lei; Onde não há deus eu sou a lei. Aqui no blog já falamos (Domingos e eu) das implicações morais do ateísmo e citamos a moral soviética bolchevique, citamos os anarco terroristas e dentre eles: Ravachol e Émily Henry, mas para que certos ateus não venham falar: "ah, mas Stálin era comunista" e/ou "Ravachol era anarquista de esquerda, etc...". Resolvi mostrar que os ateus liberais são tão iguais ou piores que os seus colegas da esquerda. Com isso, não nego que hajam ateus bons, mas esses ateus bons, carregam princípios que não vieram do ateísmo, são princípios que aprenderam na infância com pais religiosos não fanáticos, deístas ou mesmo agnósticos. Pois, Jean Paul Sartre mesmo afirmou que o ateísmo não pode ser humanista e que as noções absolutas de bem e mal advém do teísmo, mas isso é aasunto para outra postagem. Detenhamo-nos por ora em La Metrie.

La Metrie partia do princípio que o bom ou mau funcionamento do corpo condicionava de modo absoluto a felicidade ou infelicidade dos homens, de acordo com ele:

"Os maus podem ser felizes...
Parricida, incestuoso, ladrão, celerado, infame e justo objeto da execração dos homens de bem, serás feliz apesar de tudo. Bebe, come, dorme, ronca, sonha; e se, pensas, às vezes, que seja entre dois vinhos... Refocila como os porcos e serás feliz à maneira deles". [¹]

Segundo Sérgio Paulo Rouanet "diante de trechos assim é compreensível o desejo dos filósofos de se distanciarem de La Metrie. Foi o caso de Diderot, também ateu e que por isso mesmo fez questão de se dissociar das consequências morais (ou imorais) que La Metrie tirava de seu materialismo. Para Diderot, La Metrie era um autor sem julgamento, de quem se reconhecia a frivolidade de espírito no que ele dizia e a corrupção do coração no que não ousava dizer, cujos princípios derrubariam as leis, dispenariam os pais de educar seus filhos, internariam no hospício o homem que luta contra suas inclinações desregradas, em suma, era um homem dissoluto, impudente, bufão, adulador, feito para a vida das cortes e para o favor dos grandes". [²]

Notas: Do homem-máquina ao homem-genoma de Sérgio Paulo Rouanet - jornal Folha de São Paulo, caderno Mais! 06 de maio de 2001, página 14.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Da mentira

Hoje varei a noite filosofando com o Domingos Pardal Braz e o amigo Douglas, professor de filosofia em Guarujá, acerca de vários assuntos: da religião ao materialismo dialético. E um dos temas interessantes, ao menos para mim foi o tema da mentira. Você deve estar se perguntando porque, né? Por que sou um mentiroso? Partindo da premissa do doutor House, eu sou mentiroso e você também, pois como ele sempre afirma: "Todos mentem".

A questão ou melhor as questões não abordam a mentira em si, mas por que mentimos e se a mentira é intrinsecamente má.
Por que mentimos? Mentimos por brincadeiras inocentes ou não, para obter vantagens, para prejudicar alguém e até mesmo para ajudar alguém! Às vezes nem sabemos que mentimos, porque mentimos inconscientemente. Exemplo? Mulheres usam voz mais aguda para conquistar homens que acham atraentes. Elas não fazem isso propositalmente, fazem inconscientemente, mentem sem saber que mentem.

A mentira é má e a verdade é boa? Esta pergunta sugere que a verdade é sempre boa e a mentira sempre má, mas não é bem assim. Às vezes a mentira pode ser boa e a verdade cruel. Nietzsche disse que a mentira de Arria foi uma mentira piedosa: "Paetus non dolet". "A mentira que saiu dos lábios de Arria ao morrer (Paete, non dolet [Paetus, não dói])117 ofusca todas as verdades que jamais foram ditas por moribundos". in Humano demasiado humano. Se não me engano este ano a presidente Dilma foi acusada de ter mentido para os militares, e ela mentiu com o objetivo de salvar seus amigos e companheiros e com essa mentira os salvou de serem torturados e mortos pela ditadura militar. ora, nesse caso a mentira foi boa porque preservou a vida de algumas pessoas e o bem supremo de um ser humano é a vida. Agora se ela contasse a verdade ela seria delatora, traidora e seus amigos e companheiros morreriam. Ora, como pode ser boa a verdade que leva à tortura e à morte e como pode ser má a mentira que pode salvar vidas? Deixo as questões para vocês responderem.

O ateísmo virtual

Dizem os ateus das redes sociais: Orkut, facebook e Twitter que os cristãos são fanáticos. Mas isso é verdade? Em parte, nem todo cristão é chato, assim como nem todo ateu é chato, todavia existem os "chateus" (a expressão não é minha, vi no facebook) que vivem em função de zombar da fé cristã dia e noite e não falam em outra coisa e acabam se tornando pessoas chatas, chatas e obececadas pelo assunto mais que esgostado. Não basta ser ateu, faz-se mister proclamar para o mundo inteiro o ateísmo.

Quem frequenta as redes sociais e tem amigos ateus bem sabe como eles são, não todos, mas alguns chegam ao ridículo, fazendo de seus posts um verdadeiro ritual religioso e de frases ateias versículos bíblicos da nova revelação.

Agora quando um teísta tece comentários desagradáveis para o clubinho dos sem-deus, eles ficam melindrados e usam ad homimem, tachando o teísta em questão de fanático, perseguidor, inquisidor, etc... Os ateus virtuais podem mofar da fé alheia mas ninguém pode tirar sarro de sua certeza negativa, de sua metafísica. sim, metafísica, pois o ateísmo é uma postura filosófica perante o mundo e não uma visão científica.

Se ainda tivessem argumentos, mas usam frases tão batidas, argumentos tão bobos que não merecem nem respostas, mas é uma coisa que irrita, pois sinto-me  doutrinado por essa gente, arremedo dos missionários protestantes. Felizmente isso é moda, logo passa, até lá... Paciência...

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Inatismo ateístico, que troço é este???






Há cerca de vinte cinco século concebeu Platão, um dos principais representantes do pensamento helênico, a bela teoria segundo a qual todo homem que vem a este mundo trás consigo reminiscências ou memórias duma vida anterior vivida no mundo as essências puras ou idéias materializadas.

Recebeu esta bela doutrina o nome de inatismo ou seja de coisa não nascida, porque de fato, segundo platão a   ideia antecede o nascimento do corpo físico ou da natureza humana a mortal.

Evidentemente que semelhante teoria ou opinião só pode ser compreensível em termos de espiritualismo ou de transcendência uma vez que todas as tentativas encetadas com o intuito de vincular aos gênes a transmissão de quaisquer conhecimentos tem falhado miseravelmente. Material ou biologicamente falando, em termos de ideias  ou conceitos, postular uma memória genética vai contra todos os fatos percebidos e experimentados em nossos laboratórios e centros de pesquisas.

Abraçam a teoria inatista certos grupos de teístas, de religiosos, de cristãos confusos e de espíritas sobretudo, tomando por base a ideia de Deus e as doutrinas da sobrevivência da alma e da reencarnação. Dedutivamente porém, a existência da qualquer liame entre tais crenças e o inatismo é no máximo incerto, senão inexistente.

Donde os espíritas recorrem amiúde aos discursos dos espíritos desencarnados com o intuito de asseverar a realidade do inatismo, porque, como já foi dito, não é possível deduzir qualquer recordação ou memória da crença na imortalidade ou mesmo da crença na reencarnação.

Eis porque os paladinos do inatismo devem recorrer, necessariamente, ao ensino positivo do inatismo comunicado por profetas, médiuns ou quaisquer líderes pretensamente qualificados que julgam falar em nome do além túmulo ou de Deus. Baseia-se pois o inatismo no discurso de certas autoridades religiosas e não na experiência quotidiana, na reflexão filosófica ou mesmo na especulação teológica.

Excluído o discurso religioso, a revelação, a sobrenaturalidade, a pretensa autoridade credal nada resta do inatismo senão um amontoado de escombros e ruínas, pois como estabeleceu o Filósofo, com toda propriedade, nada há no intelecto ou na memória que antes não tenha passado pelos sentidos.

Tabua rasa é a mente humana em seu instante inicial, contendo apenas esquemas potenciais ou capacidades, mas isenta de todo e qualquer conteúdo experiencial em termo de sensações percebidas ou percepções.

O dito tema em questão foi por assim dizer abordado e esgotado por Hobbes no "Leviatã" há cerca de três séculos e meio...

Os sentidos coletam sensações ou percepções e estas são trabalhadas pelo intelecto ativo que delas abstrai as ideias e conceitos produzindo as teorias e opiniões.

Sem a ação dos sentidos e da percepção permaneceria a mente humana completamente vazia ou seja isenta de todo e qualquer conteúdo.

Só podemos imaginar e construir ideias a partir de nossas experiências executadas no mundo e com o mundo. É da realidade que extraímos a matéria a ser trabalhada pela razão ou pela imaginação segundo o carater e a preferência de cada um.

Tudo isto não passaria de obviedade não fosse uma coisinha...

Refiro-me ao novo sofisma construído pelos ateus com o intuito de divulgar sua crençazinha tola e superficial.

Movidos por um ódio cego para com uma entidade que não existe, fabricaram já os apóstolos do novo credo um ateísmo inatista ou um inatismo ateu, não importa, pois a ordem dos fatores...

Vira e mexe aparece - nas gloriosas páginas do Twitter e/ou do Facebook - uma mente genial asseverando ter nascido ateiazinha da silva...

Era já ateu no ventre materno, 'in sinu matris', antes de qualquer contato com o mundo ou experiência sensível...

Donde pois recebeu sua ideia ateística ou juízo de negação face a ideia e afirmação de Deus? Donde recebeu a ideia a ser repudiada ou os conceitos de afirmação e negação???

Eis Atena saindo armada dos miolos de seu Pai...

Ou terá o nosso ateu recebido tal ideia e tais conceitos de alguma vida anterior e experiência preexistente???

Seria o caso dos velhos sofistas De Holbachs, La Mattrie, Cloothes, Helvetius, Vogt, Moleschott, Buchner, Virchow, Stirner, Nietszche... terem reencarnado em terras brasílicas nestes nossos últimos e tristes tempos???

Em minha limitação, produto da ignorância mais do que crassa, desisto.

Não posso compreender os entrincados mistérios do ateísmo cujos limites chegam a extremidade do inatismo até confundir-se com ele.

Sendo o ateísmo um juízo, uma teoria, uma opinião, uma ideia ou um conceito, gostaria de saber como nascemos com ele uma vez que segundo a experiência, nascemos sem qualquer juízo, teoria, opinião, ideia ou conceito???

Mesmo porque conceitos, ideias, opiniões, teorias e juízos são construídos a partir da ignorância em dialogo
ou interação com a realidade material que nos cerca.

Como não podemos nascer com qualquer ideia ou conceito adrede formulado, não podemos nascer nem teístas, nem ateus...

Sustentam alguns teístas ingênuos e desavisados que o próprio Deus introjeta o conceito de sua natureza e existência em cada ser humano que vem a este mundo. Boa ou má esta teoria possui um nexo explicativo causal: uma operação divina com o objetivo de fixar a operação mental.

O ateu no entanto não pode apelas nem a Deus nem a qualquer outra vida ou autoridade religiosa. Como pois firmar seu pomposo inatismo???

Aqui o inatismo sempre cambiante e frágil tomba ainda mais fragosamente...

Grosso modo nascemos ignorantes ou agnóstas a respeito de qualquer coisa ou a respeito de tudo.

Ao nascer ignoramos até mesmo que seja justiça, alteridade, solidariedade, etc

'Ignorabimus' supinamente, em termos absolutos...

Não sabemos confeccionar roupas, nem comer, nem tomar banho, nem ler, nem escrever e sem qualquer suspeita a respeito do evolucionismo, do socialismo, da cidadania... e estúpido seria todo aquele que se contentasse com esta maravilhoso estado de natureza...

Nascemos vazios de conhecimento com o intuito de obter o conteúdo do conhecimento... e não de permanecer em estado de ignorância crassa...

Eis porque teísmo e ateísmo não passam de ideias, conceitos, opiniões, teorias, hipóteses, etc elaboradas pelo sujeito racional em dialogo com o mundo, ou seja, a partir dos dados coletados pelos sentidos e submetidos a ação reflexiva do intelecto.

Portanto a questão não se põe nos termos platonistas e platônicos de quem nasceu teísta ou o que é mais engraçado ainda, de quem nasceu ateu, mas de quem executa uma reflexão tanto mais sólida e vigorosa a partir dos elementos extraídos pelos sentidos face a realidade externa do mundo.

Fica assim demolido e posto a rés de chão mais uma novidade sofistica posta a venda na feira charlatanesca do ateísmo despudorado, desonesto e sem consciência.

Ao velho Platão resta apenas virar-se ou melhor saltar em seu túmulo e morrer de rir diante de seus mais novos discípulos conquistados pelo ateísmo: a boa gente que já nasceu ateia e exercendo juízo de negação a respeito de Deus. E como estou cada vez mais pagão - mas no bom sentido teísta de Aristóteles - aproveito para gargalhar: Quaquaquaquaquaquaqua

Tal a miséria de um sistema que não sabe mais para onde fugir, pois tendo principiado sob a égide da superstição empirista, vai já sacrificar as aras da musa inatista...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O preço do amanhã




No último domingo assisti ao filme "O preço do amanhã". O filme se passa em 2051 num mundo onde tudo é regido pelo tempo e com esse mesmo tempo se paga tudo. As grandes massas que são pobres tem que correr contra o tempo literalmente.

Nesse futuro próximo as pessoas não passam de 25 anos, isto é, ninguém envelhece mas as pessoas pagam caro por isso e quem não tem dinheiro morre. O preço das coisas necessárias à vida sobem todo dia, e muitos não conseguem acompanhar o ritmo do mercado e morrem por falta de tempo, isto é, morrem porque o tempo se esgota pelo fato de não terem conseguido comprar o tempo de sobrevivência. As pessoas já nascem com um relógio no antebraço marcando o tempo de vida, daí para frente é se comprar o tempo.


Trata-se de um filme de ação mas nem por isso fútil, o filme é altamente filosófico questionando o capitalismo, o darwinismo social e abordando temas caros à anarquia. Will Salas luta para roubar tempo dos ricos e distribuí-lo entre os pobres. E ele pergunta: "É roubo se já foi roubado?", fazendo referência à Proudhom.

No final, ele consegue desetabilizar o sistema e se vê pessoas sem correr, sem trabalhar, aproveitando o tempo como querem os anarquistas.

Vale a pena assistir ao filme.